PERERECA BRASILEIRA PODE SER 1º ANFÍBIO POLINIZADOR CONHECIDO, INDICA ESTUDO

  

Perereca que se alimenta de néctar provavelmente move pólen de flor em flor
Perereca que se alimenta de néctar provavelmente move pólen de flor em flor Reprodução/Carlos Henrique de Oliveira-Nogueira

Perereca brasileira pode ser 1º anfíbio polinizador conhecido, indica estudo

Ao se alimentar de flores, frutas e néctar, o polén das plantas gruda no dorso da espécie "Xenohyla truncata", cujo papel na polinização ainda precisa ser mais investigado

Por Gabriela Garcia, com edição de Larissa Beani

02/05/2023 15h50  Atualizado há um dia

 

Como você deve saber, as abelhas são animais fundamentais para a polinização. Mas, apesar de levarem a fama, elas não são as únicas no reino animal a terem essa função. Outras espécies também realizam esse trabalho com maestria. Os insetos são os principais agentes, mas vertebrados também contribuem para a reprodução das plantas, como alguns mamíferos e aves. Agora, mais um grupo pode entrar para o time: os anfíbios.

Em um artigo publicado na edição atual da revista Food Webs, uma equipe de cientistas brasileiros do Instituto de Biociências, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, descobriu que a perereca Xenohyla truncata também pode realizar a função polinizadora. Essa espécie nativa do Brasil, auxilia na dispersão do pólen quando se alimenta de flores, frutas e néctar de plantas.

O processo de polinização ocorre quando o pólen é movido dentro de uma flor ou entra em contato com o de uma outra flor da mesma espécie, ocorrendo a fertilização. Se for bem-sucedida, a flor começará a produção de frutos e sementes. Até então, sabia-se que insetos e alguns vertebrados eram capazes de contribuir para esse processo.

“Não se espera que anfíbios desempenhem um papel nessas interações, pois quase todas as espécies [desse grupo] são carnívoras (principalmente insetívoras) após a metamorfose”, contam os especialistas no estudo. Essa é a primeira vez que uma perereca, ou qualquer anfíbio, foi observada polinizando uma planta.

Anfíbios como polinizadores

Carlos Henrique de Oliveira-Nogueira, médico veterinário, herpetólogo e principal autor do estudo, explica à GALILEU que essa descoberta foi feita por acaso, durante uma expedição no município de Búzios, no Rio de Janeiro. “Ninguém nunca tinha visto esse comportamento alimentar na espécie, de fato. Nós sabíamos que, na área em que estávamos trabalhando, poderíamos encontrar a Xenohyla truncata, mas não era um objetivo do trabalho. Quando a vimos, ficamos animadíssimos”, relata o pesquisador.

Os especialistas contam no estudo que identificaram interações inesperadas entre a perereca neotropical e as plantas em sua área nativa. Além de insetos, a espécie também se alimenta de frutas, estruturas florais e néctar da vegetação. Com isso, grãos de pólen ficam aderidos ao dorso do anfíbio, tornando-o um potencial polinizador. Nogueira explica que a função polinizadora ainda precisa ser avaliada.

“Precisamos saber se ela visita outras flores da mesma espécie, se o pólen que está preso na pele dela permanece viável, se ela conseguiria depositar o pólen de uma flor na estrutura reprodutiva da outra... São muitas perguntas. Até o momento, sabemos que essa é a única espécie de anfíbio com potencial real para ser polinizadora, não apenas uma visitante floral”, afirma.

Por ser uma espécie ameaçada que tem como habitat as restingas, um dos ambientes mais ameaçados da costa brasileira, ter uma espécie polinizadora nesse local seria fundamental. Com essa função, a perereca desempenharia um papel crucial para a manutenção desse tipo de ambiente, auxiliando na reprodução das plantas. A restinga é um ecossistema costeiro, associado ao bioma da Mata Atlântica, que se desenvolve ao longo de áreas litorâneas e é fundamental para o equilíbrio ambiental e proteção das praias.

Contudo, como ressalta o herpetologista, mais pesquisas são necessárias para responder às perguntas que o trabalho trouxe e tentar encontrar novas populações de Xenohyla truncata.

“Precisamos bater na tecla da preservação das restingas primeiro, para assegurar o ambiente em que essa espécie vive e, em seguida, descobrir se as outras populações da espécie também se alimentam de flores e frutos específicos, ou se são oportunistas, e se elas polinizam de fato! Há um longo trabalho pela frente”, conclui.


Fonte:https://revistagalileu.globo.com/ciencia/biologia/noticia/2023/05/perereca-brasileira-pode-ser-1o-anfibio-polinizador-conhecido-indica-estudo.ghtml

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