10 CONSELHOS ESSENCIAIS PARA QUEM VAI VIAJAR PARA A ÍNDIA

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10 conselhos essenciais para quem vai viajar para a Índia

A Índia é um país que tem um mundo lá dentro. No entanto, a Índia tem um canto para todos. Mas nem todos gostam da Índia, porque a Índia não é para todos. Mas a Índia é, com certeza, o país mais genuíno de todos. Deixamos-vos aqui 10 conselhos que consideramos essenciais para quem vai viajar para a Índia pela primeira vez. Independentemente de ir em viagem organizada ou de forma independente, ninguém vem indiferente da Índia. Quem vai viajar para a Índia de forma independente terá que travar muitas mais lutas interiores, mas ninguém escapa delas. Se vai viajar para a Índia há coisas que precisa saber.
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1. A Índia é um murro no estômago

A índia é um murro no estômago. Um murro que dói até deixarmos de sentir a dor. A Índia não é um país para principiantes. O choque cultural é imenso, talvez o maior que um ocidental possa ter. O calor e a humidade não ajudam. Os cheiros, omnipresentes, não dão descanso aos sentidos. A pressão das pessoas, aos milhões, de dia e de noite, em todos os lados. A falta de espaço privado e de noção de privacidade. As vacas. As frutas. O lixo. As flores. A miséria. Os sorrisos. A fome. A alegria das pessoas. As buzinas. A bondade. Os macacos. A hospitalidade. Os ratos. A generosidade. Tudo no mesmo país. Tudo ao mesmo tempo. Se vai viajar para a Índia, prepare-se.

2. A Índia precisa de tempo

Dê tempo à Índia. A Índia precisa de tempo para a conseguirmos ver e sentir. Não a julgue. Aprenda com ela. Não olhe a Índia com olhos de censura, de julgamento arbitrário. Procure perceber. Procure conhecer as causas. Procure as respostas. As perguntas todos as fazem; as respostas, essas, precisam de tempo. Viajar para a Índia durante uma ou duas semanas vai fazer-lhe detestar o país. Não terá tempo para o compreender.

3. Vai ver pobreza, miséria e fome todos os dias

As ruas das cidades indianas estão cheias de mendigos, crianças de rua, órfãs, que vivem o dia-à-dia em condições desumanas, algumas piores do que animais. Dormem nas estações de comboio, nas portas dos edifícios, nos caixotes do lixo. Dormem ao lado das vacas. Partilham comida com ratos e macacos. Esta visão da Índia é forte. Muito forte. Mas para além dos mendigos de rua, a maioria das pessoas que trabalha ganha tão pouco que não tem casa para dormir. Dormem no hotel, no restaurante, na loja. Dormem no corredor e na recepção do hotel onde reservou o quarto. Dormem na porta do restaurante onde vai tomar o pequeno-almoço. A Índia é pobre. Muito pobre. A fome é o dia-à-dia de muitos adultos e crianças que passam os dias à procura de arranjar algumas rupias para saciar a fome. Viajar para a Índia é testemunhar esta realidade.

4. A morte vai-lhe entrar pelos olhos dentro

A morte é uma fase da vida e na Índia isso é bem visível. É cada vez menos comum ver mortos nas ruas, alguns abandonados, outros a serem tratados pelos familiares. Mas se viajar em meios pequenos pode ver as famílias a despedirem-se dos cadáveres à porta de casa, a prepará-los para a cerimónia fúnebre, a preparar as cremações. Não acontece só em Varanasi. Acontece um pouco por toda a Índia. Se estiver atento, a morte anda nas ruas. Em Bikaner passávamos nas ruas da cidade velha quando vimos um jovem com o pai a preparar a padiola para colocar a mãe. Faziam-no na berma da estrada, pois não havia passeio. Em Puri, partilhámos a dor das famílias que ainda fazem a cremação tradicional dos corpos, sob o olhar reprovador dos mais jovens que prefeririam queimar os pais nos crematórios modernos e fechados. Em Varanasi a morte desfila pelas ruas. As padiolas saem dos templos e das casas e percorrem as ruas em direcção aos ghats crematórios, onde os filhos mais velhos rapam os cabelos.  Os doentes e moribundos aglomeram-se nas ruas estreitas da cidade velha e esperam morrer nas margens do Ganges. Os mortos bóiam no rio. As cinzas dos cadáveres sujam as ruas e as águas, e voam com o vento. Mas a morte, na Índia, é uma fase transitória da vida. É assim que devemos entendê-la.

5. Pode saber o que vai ver, mas nunca saberá o que vai sentir quando o vir

O que custa na Índia não é não saber o que vamos ver. A maioria das pessoas sabe que vai ver grandes contrastes económicos, que na realidade não chocam assim tanto. O que choca é o extremo da pobreza, já que o extremo da riqueza é bem mais modesto que nos países ocidentais. O que custa na Índia é não conseguirmos lidar com aquilo que sentimos pelo que vemos. Os primeiros dias são muito difíceis. São uma luta interior, por muito preparado que se esteja.

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6. A Índia ganha sempre

Uma das situações que mais nos marcou foi presenciar uma criança de rua, provavelmente órfã, que pertencia a um grupo de homens que geria crianças-mendigos. Estávamos na estação de Varanasi e aproximou-se um miúdo pedindo dinheiro. Era natural. Éramos dois estrangeiros, brancos, sentados na estação. Era óbvio que éramos ricos, estávamos a viajar na Índia! Não démos. Antes de viajar para a Índia acordámos que nunca daríamos dinheiro aos pedintes. Para além de nos sentirmos mal, por recusar as rupias que podiam pagar o prato de comida à criança, que nos olhou com olhos que nos penetram a alma, oferecemos-lhes bolachas e convidámo-lo a sentar ao nosso lado. Não aceitou e foi-se embora. Um homem abordou-o e obrigou-o a voltar. A criança voltou. Não teria mais do que 8 ou 9 anos. Olhos negros penetrantes. Remelas secas. Voltou a pedir dinheiro. Os nossos corações gelavam. Voltámos a negar. Sabíamos que o dinheiro não era para ele. O dinheiro era para o “dono” das crianças. Passámos-lhe um pacote de bolachas para a mão. Desta vez, guardou-o. A criança voltou a ir embora. E regressou novamente. Regressou mais três ou quatro vezes, obrigado pelo adulto que estava encostado à parede. Voltou a ouvir “não”. E a cada não que lhe dizíamos era como se um punhal se cravasse no nosso coração. Se déssemos dinheiro aquela criança o ciclo de tráfico de crianças irá perpetuar-se. Não podíamos compactuar com isto. Seria muito mais fácil dar-lhe 10 rupias, afinal são cerca de 15 cêntimos. Mas o que conseguiríamos com isso? Iria esta criança comer? Se calhar as bolachas alimentam-lhe muito mais, já que as 10 rupias nunca ficariam com ele. Mas lhe déssemos o dinheiro, ele podia ir embora. Como não demos, a criança continuou ali. Mas se lhe déssemos o dinheiro apenas estávamos a pagar para nos livrarmos do problema. A maioria dos estrangeiros dá. Dá porque tenta de alguma forma “pagar a culpa do subdesenvolvimento” que todos sabemos é dos países desenvolvidos. Mas nós decidimos que não dávamos. Essa seria a forma fácil de lidar com a situação. Difícil e duro era dizer que não. Olhar a criança quase suplicar com os olhos, e recusar, com o coração a tremer e a sentir-se a pior pessoa do mundo. Aquela criança devia estar na escola. Mas enquanto estiver ali e conseguir dinheiro nunca terá hipótese de ir à escola. Faça o que se fizer, dando-lhe dinheiro ou não, vamos sentir-nos sempre mal. Vamos sentir-nos cúmplices do “dono” se lhe dermos dinheiro. Vamos sentir-nos a pessoa mais desumana do mundo se lhe recusarmos as 10 rupias. Como se lida com isto? Como se sente isto? Cada um sente-o de forma diferente, mas todos sentem coisas que nunca sentiram. Todos travam batalhas interiores que nunca poderão ganhar porque, no fundo, a Índia ganha sempre. O visitante sai sempre a perder. A maior riqueza que podemos ter é aprender com estas situações. Aprender a compreender porque isto acontece. E independentemente da atitude que se tomar, dar ou não dar dinheiro, perceber que vamos sempre sentir-nos a pior pessoa do mundo. Será que devemos dar dinheiro? Por principio pensamos que não. E sempre que podemos, tentámos não o dar. Mas houve momentos em que demos. Não sabemos explicar porquê. Sabemos apenas que o fizemos. Um desses casos foi o de um menino de rua, em Delhi, que vendia canetas na zona mais elegante da cidade. Negociámos as canetas por um preço justo e, no final, depois de comprar as canelas, voltámos a dá-las de presente para que as pudesse vender outra vez. Sentimo-nos bem por ver os olhos da criança brilharem de alegria, que correu em direcção à mãe que estava estendida no chão com um bebé ao colo. Mas ao mesmo tempo, sentimo-nos as piores pessoas do mundo, porque aquela criança, por mais um dia, não vai precisar de ir à escola. Consegue na rua o dinheiro necessário para alimentar a família. A Índia ganhou. A Índia ganha sempre.

7. Faça o que fizer, sentir-se-á sempre impotente

Não há nada que possa fazer. Ou aliás, há muito, mas faça o que fizer vai sempre sentir-se impotente. Relembro aqui apenas duas das muitas situações que vivemos. Se vai viajar para a Índia prepare-se para isto. Uma das situações foi em Pushkar, quando uma menina com cerca de 13 anos e um bebé ao colo se aproximou a pedir dinheiro. Negámos. A menina pediu-nos então para ir com ela a uma loja comprar leite para alimentar o bebé. Fomos. Comprámos leite e bolachas. Pagámos. Saímos, nós e a menina. Despedimo-nos. Dei-lhe um abraço. Ela desenhou-me uma rosa em hena na palma da mão. Poucos minutos depois voltamos para trás, na mesma rua. A menina estava dentro da loja, a devolver o leite e a dividir o dinheiro com o lojista. Sentimo-nos mal. Tão mal. Tínhamos sido enganados. Mas o pior foi ter sentido vergonha de a confrontar com aquilo. Tivemos vergonha de confrontar a pobre menina com o “uso da pobreza”. É um conceito que não existe em Portugal. Podemos ter a melhor das intenções mas nem sempre elas servem os propósitos que nós pensamos. Outra das situações aconteceu-nos em Calcutá. Entramos no KFC para almoçar. Como tínhamos visto crianças de rua, optámos por comprar um balde de frango para dar aos miúdos. Quando saímos, oferecemos o balde a três ou quatro crianças que correram para nós. Mas enquanto as crianças começavam a tirar o frango, dezenas de outras corriam na nossa direcção. Olhámos um para o outro. Sentimo-nos impotentes. Podíamos entrar no KFC mais 10 vezes que não os íamos conseguir alimentar. Um deles olhava para nós e dizia “mas deste-lhe a ele”. O nosso coração gelou. Só queríamos fugir. E de alguma forma é isso que temos de fazer. Por muito desumano que parece e seja, temos que tentar fugir da sensação de querer mudar aquele mundo. Se não fugirmos, enlouquecemos. Naquele dia aprendemos que o nosso coração tem que se petrificar um pouco, caso contrário nunca sobrevivíamos à Índia. E petrificámos. Tentámos envolver-nos menos. Continuámos a dar beijos e abraços às crianças e mulheres de rua. Abraçámos os dalits e intocáveis, sob olhares de censura, brincámos com crianças órfãs e das favelas. Oferecemos-lhes fotografias da polaróide e carinhos no rosto. Alguns coravam de emoção. Houve mulheres que, quando abraçadas pela Carla, vinham-lhe as lágrimas aos olhos. Tentámos mudar alguma coisa no meio da impotência que sentimos todos os dias. Tentámos fazer a diferença, sabendo que o que fazíamos era muito pouco comparado com tudo o que a Índia nos estava a ensinar. Viajar para a Índia é isto.

8. Ninguém fica indiferente à Índia

Ninguém vê o que vê na Índia e lhe fica indiferente. É impossível viajar para a Índia e vir de lá igual. A Índia testa os nossos limites da humanidade. No final, ou se ama, ou se detesta. Como é possível amar um país destes? Um país que nos choca todos os dias com casos de desumanidade? É assim que a Índia se mostra. A Índia é um país dos tempos modernos mas continua a não usar filtros. Ela mostra-se crua. Tal e qual como é. Mostra-se feia, suja e desumana. Mostra-se bela, extraordinária e resiliente. Como é possível detestar um país em que a população luta todos os dias pela vida? Luta por um prato de comida para sobreviver. Nós só conseguimos adorar a Índia porque sabemos que ela é a prova inequívoca do que é a essência humana. Ela é bonita e feia ao mesmo tempo. Ela é boa e má, ao mesmo tempo. Ela é retrato da sociedade humana, cada vez mais desumana. E no entanto, ao longo dos milénios, a Índia sobreviveu a isto tudo. Como se pode não amá-la?

9. Há lixo por todo o lado

A questão dos lixos na Índia é algo que salta à vista. As ruas estão cheias de lixo, as estações e zonas mais povoadas das cidades têm montanhas de resíduos que apodrecem e conspurcam o ar. A questão dos lixos na índia é muito social. A população cresceu de forma exponencial e com ela o consumo. Uma sociedade predominantemente rural, que comia em folhas de bananeira, atirava-as para o chão. As folhas degradavam-se com o tempo. Mas a sociedade mudou. As pessoas deixaram as aldeias e vieram para as cidades em busca de melhores condições de vida. Mumbai, Delhi, Bangalore, Chennai e Calcutá são o símbolo do sonho indiano. A população que deitava folhas de bananeira para o chão tem agora pratos e talheres de plástico, que seguem o mesmo destino. As roupas também. As batatas fritas substituíram o milho cozido, acrescentando as embalagens ao panorama. Os lixos aglomeram-se por todo o lado. Há toneladas de lixo espalhadas pelas cidades. O cheiro é nauseabundo. Mas a Índia está a mudar. Já há sinais nas estações que proíbem que se deite lixo para o chão e inclusive com multas para quem o fizer. A sociedade indiana mudou e com tempo, a Índia adaptar-se-á aos novos desafios. Quem vai viajar para a Índia deve estar consciente disto.

10. Não julgue a índia, respeite-a 

A Índia não é para todos. Há muita gente que viaja para a Índia e não gosta. Está no seu direito. Isto acontece porque a Índia não é fácil. Lidar com um misto de emoções, todas ao mesmo tempo, é muito difícil. São batalhas constantes. A maioria das pessoas começa por julgar a Índia. “Na Índia as vacas valem mais do que as mulheres”, dizem. Na Índia as vacas valem mais do que todos os seres humanos. Na Índia as vacas são sagradas. São deuses. Os deuses não valem mais do que os homens também nos outros lugares do mundo? “Na Índia há fortes violações dos Direitos Humanos”. Verdade e nada o justifica. Mas também não os há no nosso país e noutros ditos desenvolvidos? Na Índia a pobreza é crónica e o sistema de castas castrador. Mas a Índia está a lutar muito por tentar mudar. A Índia tem milénios de história. As primeiras civilizações mundiais floresceram ali. As castas existem há mais de três mil anos, tempo esse em que nunca foram questionadas. Nem Gandhi ousou pô-las em causa, aliás defendia-as como forma de perpetuar a hierarquia na sociedade. Gandhi defendia apenas a integração dos “sem casta”, os chamados intocáveis ou dalits, na sociedade indiana. Será a Índia capaz de mudar em algumas décadas o que já dura há milénios? As mudanças precisam de tempo. Elas estão acontecer, mas demoram tempo. Devemos dar tempo à Índia.

Se vai viajar para a Índia, prepare-se, mas os melhores conselhos que temos para si são estes.
Fonte:https://www.viajarentreviagens.pt/india/conselhos-para-viajar-para-a-india/
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