O NOVO TURISMO DA ALMA - QUATRO DESTINOS ESOTÉRICOS EM ALTA


O novo turismo da alma

Quer achar seu “eu interior”? Algumas agências têm pacotes que incluem até xamã
CELSO MASSON

MEDITAÇÃO
A Baía de Findhorn, no sul da Escócia, é um dos novos locais de peregrinação espiritual. Lá funciona uma “comunidade holística”
Quando chegou a Findhorn, uma pacata cidade no sul da Escócia, a professora de Inglês Marcia Schubert encontrou mais que o ar puro, a paisagem bucólica e o sossego típico de um vilarejo afastado de tudo. Ela diz ter achado um lugar encantado: “Para mim, foi mágico. Tive a oportunidade de compreender temas que nos afetam e que no dia-a-dia deixamos escapar”. O que levou Marcia até Findhorn foi um festival de danças circulares, em que várias pessoas interagem dando as mãos e rodopiando ao som de músicas étnicas. “Minha vida não mudou, mas eu mudei.”
Como Marcia, muitos brasileiros têm feito as malas à procura de experiências místicas em lugares que conside-ram mágicos ou sagrados. Podem ser templos egípcios, ruínas astecas ou bosques no interior da Irlanda onde são realizados rituais de magia wicca (uma religião celta). Pelo menos quatro destinos têm movimentado as agências de turismo nos últimos tempos (leia o quadro). Mas há outros sendo descobertos e oferecidos aos interessados. É uma nova onda: o turismo esotérico.
O termo esotérico surgiu na Grécia Antiga. Significava “ensinamento interno” e se referia aos mistérios que eram compartilhados somente por um círculo de iniciados. Hoje, esoterismo virou sinônimo de práticas como tarô, numerologia e astrologia, entre tantas outras que oferecem explicações sobre aquilo que desconhecemos – incluindo nosso futuro.
Para explorar o que os destinos esotéricos oferecem, algumas agências de viagens incluem no pacote não a-penas guias turísticos, mas também os espirituais, como xamãs (capazes de invocar divindades) e até bruxas. No início de novembro, um grupo de brasileiros embarca para o Peru em uma jornada transcendental. Serão acompa-nhados por um xamã e por um autodenominado “coach”, ou especialista em desenvolvimento pessoal. O destino, Nazca, foi escolhido pelas misteriosas inscrições que inspiraram livros como Eram os Deuses Astronautas?, do suíço Erich von Däniken. Como o autor da obra, quem vai a Nazca quer desvendar o significado oculto dos desenhos gi-gantes que há na região e que só podem ser vistos do alto. Feitos com pedras há 2 mil anos, eles formam figuras geométricas, representações de animais e de seres humanos. Alguns chegam a 8 quilômetros de extensão.
“Para mim, foi mágico. Eu mudei. Tive a oportunidade de compreender temas que nos escapam”,
diz uma peregrina
De que maneira os desenhos de Nazca podem ajudar quem procura equilíbrio, prosperidade e sucesso? “Não sabemos o que motivou aquela civilização a criar as imagens, mas podemos, a partir dali, conhecer nossas verdadei-ras motivações e encontrar forças para alcançar nossos objetivos”, diz o coach Aldo Novak. A idéia da viagem partiu de Alcione Giacomitti, autor de Os Pilares da Sabedoria de um Novo Mundo e diretor da agência de viagens Terra Inca. O xamã que acompanha o grupo, Mario “El Puma”, diz ser descendente de incas e conhecedor das tradições de “energização” de seus antepassados.
Nas últimas décadas, destinos como Santiago de Compostela, no norte da Espanha, ganharam destaque ao atrair quem viaja por razões ligadas à espiritualidade e ao autoconhecimento. O Caminho de Santiago, popularizado pelo mago Paulo Coelho, é percorrido desde o século IX. Tem paralelo com as peregrinações religiosas a cidades como Roma, Jerusalém e Fátima, em Portugal, destinos que continuam disputados entre os religiosos.
Foi organizando viagens de pastores evangélicos para a Terra Santa que a operadora de turismo Maria Izabel Tei-xeira da Costa percebeu o potencial das peregrinações. Sócia da AbbaTour, ela já levou mais de mil brasileiros para o Egito. Parte da clientela, diz Maria Izabel, é iniciada em ordens como a Maçonaria e a Rosa Cruz. “Os místicos querem conhecer as ruínas de Akhetaton, em Amarna.” Foi lá que o faraó Akhenaton, pai de Tutankhamon, reformou a religião no Egito do século XIV a.C., ao retirar o poder dos sacerdotes de Tebas e instituir o deus Aton como a única divindade a ser cultuada. Em visitas à cidade, que fica a 300 quilômetros da capital, Cairo, a agência pode oferecer um atrativo extra: as aulas do egiptólogo Júlio Gralha. Especialista na arquitetura e nos cultos religiosos do Egito Antigo, ele é professor da Uni-versidade Estadual do Rio de Janeiro e autor do livro Deuses, Faraós e o Poder. Nos templos, Gralha explica o papel da iconografia, dos mitos e dos textos sagrados daquela civilização.
Quatro destinos esotéricos em alta - E o que há para ver em cada um
1. Nazca - PERU
O que tem: desenhos de animais e figuras com até 8 km.
Para: interessados em ETs
2. Findhorn - ESCÓCIA
Abriga um festival de danças folclóricas. Para: adeptos da “nova era” e holísticos
3. Vale de Boyne - IRLANDA
Sítio arqueológico de 3.000 a.C. Para: simpatizantes de druidas e da magia celta
4. Amarna - EGITO
Templos de Akhenaton, o faraó monoteísta. Atrai maçons e rosa-cruzes

Outros destinos esotéricos são a cidade sagrada de Machu Picchu, no Peru, a Ilha de Páscoa, no Chile, as ruínas maias do México e toda a Índia. É para esses lugares que Mayara de Castro, da agência de viagens Deva Gaia, costu-ma levar seus clientes. Agora, ela oferece também as danças sagradas de Findhorn, na Escócia. “São cerimônias que fazem aflorar os sentimentos escondidos dentro de cada um de nós”, diz Mayara. Na agência Deva Gaia, antes de em-barcar o candidato a peregrino participa de reuniões em que especialistas antecipam as experiências. “É uma prepara-ção importante. A pessoa precisa saber o que está procurando e o que vai encontrar”, afirma. A Irlanda é o roteiro prefe-rido dos iniciados na mitologia celta. Para quem quer ir além e participar de um autêntico ritual de bruxaria, há agências que oferecem o pacote. Com direito a uma bruxa de plantão.
Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR79531-6014,00.html

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