Ecovila é um modelo de assentamento humano sustentável. São comunidades urbanas ou rurais de pessoas que tem a intenção de integrar uma vida social harmônica a um estilo de vida sustentável. Para alcançar este objetivo, as ecovilas incluem em sua organização muitas práticas como:
- Produção local e orgânica de alimentos;
- Utilização de sistemas de energias renováveis;
- Utilização de material de baixo impacto ambiental nas construções (bioconstrução ou arquitetura sustentável);
- Criação de esquemas de apoio social e familiar;
- Diversidade cultural e espiritual;
- Governança circular e empoderamento mutuo, incluindo experiência com novos processos de tomada de decisão e consenso;
- Economia solidária, cooperativismo e rede de trocas;
- Educação transdisciplinar e holística;
- Sistema de Saúde integral e preventivo;
- Preservação e manejo de ecossistemas locais;
- Comunicação e ativismo global e local.
Ecovilas são entidades autônomas na medida em que preenchem, numa área limitada e apreensível, as principais funções sociais: moradia, sustento, produção, vida social, lazer, etc. Nesse sentido pode-se entender uma ecovila como um microcosmo.1
Ao longo de milhares de anos a humanidade viveu em comunidades sustentáveis, em contato íntimo com a natureza, desenvolvendo uma gigantesca diversidade cultural, onde em geral imperava uma estrutura social de apoio mútuo e cooperação. O evento da sociedade patriarcal e guerreira é bastante recente (16.000 anos)2 , mas tem causado um grande impacto no planeta. Enquanto isso as sociedades tradicionais lutam por sobreviver.
Neste contexto as ecovilas surgem como modelos alternativos ao padrão insustentável das sociedades modernas, incorporando os antigos conhecimentos com a moderna ciência e filosofia. De acordo com um número crescente de cientistas, teremos que aprender a viver de forma sustentável, se quisermos sobreviver como espécie. Os modelos de sustentabilidade desenvolvidos ao longo de mais de 40 anos pelas milhares de ecovilas ao redor do mundo formam um grande banco de dados de soluções aos atuais problemas da humanidade e fonte de riquíssimas experiências que podem ajudar a reconectar as pessoas à Terra numa forma que permita o bem estar de todas as formas de vida e futuras gerações.
Os defensores das ecovilas afirmam que o ser humano é capaz de criar uma vida cheia de amor e sentido. E essa seria a parte central numa ecovila, sua vida social, cultural e espiritual. Segundo eles, os seres humanos são seres sociais e amorosos por natureza, apesar de a cultura ocidental moderna valorizar em excesso o indivilualismo, a competição, a violência, o poder, o controle, a desconfiança e a apropriação. Reconectar os seres humanos a sua natureza significaria barrar estes valores, limpando esta carga cultural, e colocando a cooperação, o amor, o respeito, a transparência, a solidariedade e a confiança novamente no centro de suas vidas.
Em 1998, as ecovilas foram nomeadas oficialmente na lista da ONU das 100 melhores práticas para o desenvolvimento sustentável, como modelos excelentes de vida sustentável.
Elas surgem de acordo com as características de suas próprias bio-regiões e englobam tipicamente quatro dimensões: a social, a ecológica, a cultural e a espiritual, combinadas numa abordagem que estimula o desenvolvimento comunitário e pessoal.
O conceito de ecovilas oferece um único modelo, embora com múltiplas manifestações locais. No núcleo do modelo está a celebração da diversidade cultural, espiritual e ecológica e o impulso para se recriar comunidades humanas em que as pessoas possam redescobrir as relações saudáveis e sustentáveis consigo mesmas, a sociedade e a Terra. O modelo de ecovila tem proposto soluções viáveis para erradicação da pobreza e da degradação do meio-ambiente e combina um contexto de apoio sócio-cultural com um estilo de vida de baixo impacto.
O que é sustentado numa ecovila não é o crescimento econômico ou o desenvolvimento, mas toda a rede de vida da qual depende nossa sobrevivência futura de longo prazo.
Uma ecovila é programada de tal maneira que os negócios, as estruturas físicas e tecnológicas não interfiram com a habilidade inerente à natureza de manter a vida.
Um dos princípios fundamentais do modelo é não tirar da Terra mais do que podemos devolver a ela. E assim fazendo, potencialmente, a comunidade pode continuar indefinidamente. Um dos conceitos utilizados nas ecovilas é o da permacultura, que é um sistema de design sustentável.
A implementação das ecovilas envolve um esforço das bases, de baixo para cima, mais do que a abordagem de cima para baixo. Cada ecovila dentro do seu próprio contexto cultural e ambiental, busca e demonstra soluções locais, usando tecnologias apropriadas, materiais locais, know-how local e antes de tudo oferecendo soluções compatíveis e acessíveis a todos.
O conceito de ecovila tem sido promovido e implementado por grupos espalhados pelo planeta, muitas vezes com recursos limitados e mínimo apoio institucional ou governamental. Estes grupos demonstram exemplos viáveis de vida auto-sustentada, modelos positivos traduzidos em realidade, para que outros grupos e indivíduos possam aprender, e inspirar-se onde o sucesso já foi alcançado.
Essa é a missão do movimento das ecovilas: explorar novas fronteiras e praticar aplicações concretas para a sustentabilidade. Nesta busca elas tecem uma filosofia de harmonia e paixão, sonho e visão, de terra e cosmo, de tecnologia e espírito, de educação e ativismo, de dança e canto, de ciclo e equilíbrio, de morte e renovação. Ecovilas, em síntese, honram, restauram e celebram os quatro elementos e seus processos interconectados na Natureza e nas pessoas.
Sieben Linden
Nascimento da Rede Global de Ecovilas (GEN)
O ímpeto que levou várias comunidades intencionais a se unirem formando a GEN - Rede Global de Ecovilas partiu da organização Gaia Trust da Dinamarca. No início da década de 90 Ross e Hildur Jackson, diretores da Gaia Trust, perguntaram como sua organização poderia usar melhor seus recursos para avançar o movimento de sustentabilidade. Eles advogavam que na nossa sociedade tecnológica precisava-se de bons exemplos do que significa viver em harmonia com a Natureza, de uma forma sustentável e espiritualmente interconectada.
Em 1991 Gaia Trust, convidou Robert e Diane Gilman, editores da revista In Context, para fazer uma pesquisa de campo e identificar os melhores exemplos de comunidades sustentáveis ao redor do mundo. O resultado de sua pesquisa revelou a existência de muitas comunidades em busca de sustentabilidade, entretanto a ecovila ideal, sem ‘gaps’, ainda não existia. No entanto, se reuníssemos todos os projetos existentes, poderíamos identificar a emergência de uma nova visão, cultura e estilo de vida que poderia funcionar como modelo positivo de um futuro humano e planetário viável e sustentável.
Em seu relatório – Ecovilas e Comunidades Sustentáveis – pela primeira vez uma ecovila é definida como:
"(…) uma grandeza humana, um povoado autônomo no qual as atividades humanas são harmoniosamente integradas na natureza de forma a promover um desenvolvimento humano saudável e que possa ser mantido indefinidamente.”3
Com base no relatório Gilman, representantes de algumas comunidades bem estabelecidas começaram a se reunir a partir de 1991 para discutir uma estratégia de desenvolvimento e difusão do conceito de ecovilas. Foram estabelecidas conexões e identificadas áreas comuns nas quais podíamos entusiasticamente trabalhar juntos. Em 1995 num encontro histórico realizado na Fundação Findhorn o conceito de ecovilas foi lançado globalmente. Neste encontro estavam presentes comunidades que, como Findhorn, já haviam adquirido uma maturidade no seu experimento comunitário e uma complexidade social e econômica. Estas comunidades estavam se tornando vilas auto-sustentáveis e já era tempo de reafirmarem um novo estágio no seu caminhar.
A conferencia “Ecovilas e Comunidades Sustentáveis – modelos de vida no Século XXI”, atraiu 400 participantes de todo o mundo, e mais 300 que não puderam acompanhar. Nesta ocasião foi estabelecida a Rede Global de Ecovilas (GEN), com um secretariado internacional na Dinamarca e três regionais: nos Estados Unidos cobrindo todas as Américas, na Austrália cobrindo a Oceania e a Ásia, na Alemanha cobrindo o continente Europeu e África.
Cada secretariado recebeu o mandato de construir e fortalecer redes regionais e nacionais, de promover cooperação entre as regiões, e de divulgar a experiência das ecovilas para os formuladores de políticas, planejadores e o público em geral.
Criada em 1995 por 9 ecovilas “sementes”, The Farmnos EUA, Lebensgarten na Alemanha, Crystal Waters na Australia, Eco-ville St Petersburg na Russia, Gyurufu na Hungria, Projeto Laddak na India, Auroville na India, Findhorn Foundation na Escócia e aAssociação Dinamarquesa de Ecovilas na Dinamarca.
Hoje a engloba mais de 15.000 ecovilas transformando-se no que é chamado de “A Revolução do Habitat”.
Membros da rede incluem redes como - Sarvodaya (11 mil vilas tradicionais no Sri Lanka); - Eco Yoff e Colufifa (350 vilas no Senegal); - o projeto Ladakh, no planalto tibetano; - ecocidades como Auroville no sul da Índia e Nimbin na Austrália; - pequenas ecovilas rurais como a Gaia Asociación na Argentina e Huehuecoyotl no México; - projetos de rejuvenescimento urbano como o Eco Village de Los Angeles e Christiania de Copenhagen; - projetos de permacultura como a referida Crystal Waters na Austrália e Barus no Brasil; - e centros educacionais como Findhorn Ecovillage na Escócia; o Centre for Alternative Technology no País de Gales; Earthlands em Massachusetts; Tamera em Portugal e muitos outros.
O movimento foi muito auxiliado pelo surgimento da Internet, como um instrumento de uma rede internacional e, podemos afirmar que a rede virtual fez o movimento descobrir sua real força e diversidade.
Hoje, a GEN leva a mensagem das ecovilas aos principais fóruns governamentais e sociedades civis. É um importante participante do programa de treinamento das Nações Unidas para ajudar governos locais a implementar a Agenda 21 e a Agenda Habitat, tem status consultivo como uma ONG na ONU, tem representantes em eventos como o Encontro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (World Summit on Sustainable Development) e os Fóruns Sociais Mundial e Europeu, além de se apresentar em inúmeros congressos e seminários sobre temas relacionados em todo o mundo.
Permacultura
Água
Fonte de vida, a água e seu ciclo são essencias para a manutenção dos ecossistemas e do ser humano.
A falta de cuidado com a água em quase todas as cidades no mundo é alarmante. Mas as soluções já estão ai. Para que as cidades sejam de fato sustentáveis, é preciso que haja uma ampla educação e conscientização, e a descentralização nos sistemas de tratamento de águas. As soluções em pequena escala são muito importantes. Em muitas regiões, é um recurso bastante escasso, e nesses casos, é essencial captar água da chuva e armazená-la em cisternas.
Para bombear a água para locais mais altos pode-se utilizar bombas manuais de PVC4 , construídas manualmente a baixo custo, ou então por meio do carneiro hidráulico, que aproveita a energia do próprio curso d'água5 . Esta água pode ser armazenada em cisternas de ferrocimento6 .
Toda água adquirida de chuvas pode ser filtrada por meio de biofiltros hidropônicos de aguapé, carvão, areia e brita. Ou então por meio de leitos filtrantes com areia e taboa ou lirio do mato. A água utilizada em alimentos e no banho pode ser encanada e filtrada da mesma forma que a água da chuva com estes filtros. Para consumo, podem ser utilizados filtros de barro, que são adquiridos facilmente e são muito baratos.
Tratamento de rejeitos
Uma forma inteligente de tratar dejetos é utilizar o banheiro seco. Não gasta água e não produz esgoto. O sol, o tempo e as minhocas fazem o trabalho de transformar matéria orgânica em fertilizante. O interior pode ser igual ao de um banheiro comum, mas em vez de água na descarga, serragem.7
Outra alternativa são os biodigestores, que geram um fertilizante líquido que pode ser utilizado na irrigação da lavoura da ecovila. O biogás produzido com dejetos humanos não é muito expressivo, mas pode complementar outras fontes de combustível.
O lixo passa pela coleta seletiva, e sempre que possível é reciclado ou transportado para centros de reciclagem. Todo lixo orgânico gerado ainda pode ser utilizado como adubo para as hortas.
As águas cinzas (pia, ducha, da limpeza de roupas, etc.) podem ser tratadas num sistema de tanques com filtros e plantas aquáticas, que purificam a água, graças às bactérias que vivem em suas raízes. Veja no site o Ipema para mais detalhes.
Energia
A energia elétrica pode ser gerada localmente por painéis solares, geradores eólicos, moinho de água, biogás, ou outras fontes.
Os custos são compensados a longo prazo, com a economia gerada e com a venda da energia excedente para a rede pública de energia elétrica, que atualmente é vendida a preço mais alto do que a comprada.
Existe atualmente uma infinidade de tecnologias ecológicas de captação e uso de energia, e muitas ainda a serem desenvolvidas.
Transporte
Enquanto não surgirem alternativas ao motor de combustão, necessitar o mínimo possível de transportes que utilizem combustíveis fosseis seria o ideal, e as alternativas são a bicicleta, trem, transporte coletivo, sistema de caronas e a diminuição da distancia entre o local de trabalho e de moradia, que ajudam muito a diminuir os custos e a pegada ecológica.
Bioconstrução
A indústria do setor de construção é uma das que mais poluem e destroem o ambiente.
Existe hoje uma infinidade de conhecimentos em bioconstrução, que além de utilizar materiais ecológicos, resolve uma grande quantidade de problemas nas moradias, principalmente ao que se refere à economia de energia e bem estar. A posição solar, a arquitetura que otimiza a luz natural, ventilação, aquecimento e resfriamento passivo, enfim, há várias formas de se otimizar a economia energética e o bem estar.
Algumas opções de materiais são: tijolos-ecológicos, feitos de barro prensado, construções com cob, fardos de palha e barro (excelentes para o isolamento térmico), pau-a-pique, taipa de pilão, etc.
Para o telhado, uma boa alternativa é o chamado telhado verde, que possui grande poder de isolamento térmico no inverno e arrefecimento por evapo-transpiração das plantas no verão, diminuindo sensivelmente os gastos com energia para aquecimento e resfriamento dos ambientes. As águas cinzas podem ser aproveitadas para irrigar o telhado verde.
Economia solidária e consumo consciente
A sustentabilidade econômica de uma comunidade se fortalece na medida em que as trocas se tornam cada vez mais locais, com a criação de uma rede de colaboração e trocas, uma moeda social, pequenos negocios e incentivos locais.
O consumo hoje é a medida do sucesso pessoal na sociedade moderna. Entretanto nem sempre este esta associado a qualidade de vida e a felicidade, e sim, muitas vezes, a deterioração das comunidades e dos ecossistemas. Além disto, estamos hoje presos a um sistema onde somos obrigados a trabalhar, sem tempo livre, para poder consumir produtos que não correspondem as nossas necessidades, e de seguir modelos de sucesso e imagem criados pela midia.
Estarmos conscientes de como participamos da estrutura socio-economica mundial, geradora de concentração de renda, pobreza, violência, doenças e ignorancia, é o primeiro passo para mudarmos o sistema, e deixarmos de ser "vitimas". O segundo é a escolha do que e quanto consumir.
A organização do trabalho dentro da comunidade depende dos conhecimentos e habilidades dos seus integrantes.
Em muitas ecovilas tem sido prezada a auto-suficiência em materiais, alimentos e serviços. Em outras, há um forte trabalho com o setor público, visitantes, trabalhos com a comunidade dos arredores, cursos, projetos, festivais e todo tipo de atividades que tragam algum retorno à comunidade e beneficie o máximo de pessoas.
Produção local de alimentos orgânicos
Em quase todas ecovilas, a produção de alimentos saudáveis e o cuidado da terra, dentro dos principios da permacultura, é uma pratica bastante comum, em pequena ou grande escala. Na permacultura, é muito importante o contato, observação e compreensão da terra e ecossistemas locais. A partir disso, se cria um design sustentável de um sistema muito produtivo, resistente e belo, com pouco uso de energia e sem desperdicios.
Governança circular, empoderamento e decisões por consenso
Como em toda sociedade, as ecovilas também tem uma organização política e social. Os acordos de convivencia, as habilidades de comunicação, partilhas emocionais, feedbacks, mediação de conflitos, e o fortalecimento da visão comum são pontos cruciais para a determinação do bom convívio.
As decisões em geral são feitas por algum sistema de consenso ou através de conselhos. Há também uma forte tendencia para o empoderamento, ou seja, compartilhar poder e responsabilidades.
Referências
- ↑ Veja: DEGENHARDT, Paulo Henrique. Ecovillage Education Centre: Plan for the Organisational Development of a Brazilian Ecovillage within the Context of Education for Sustainable Development. (EEPOD). (In German) Master Thesis. Rostock University, 2011. p. 11-12 (pdf)
- ↑ MATURANA, H.; VERDEN-ZÖLLER, G. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano. São Paulo: Editora Palas Athena, 2004
- ↑ Traduzido livremente do original em inglês “(…) a human-scale full-featured settlement in which human activities are harmlessly integrated into the natural world in a way that is supportive of healthy human development and can be successfully continued into the indefinite future." GILMAN, Robert. The Eco-Village Challenge : The challenge of developing a community living in balanced harmony - with itself as well as nature - is tough, but attainable. In: Living Together, 29 (Summer 1991) p. 10
- ↑ Sociedade do Sol. Projetos de bombas de água manuais para vários fins. http://www.sociedadedosol.org.br/comofazer_manuais.htm#bm1 (visitado em 16/12/2008)
- ↑ Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas (CERPCH). Carneiro hidráulico: O que é e como construí-lo. http://www.cerpch.unifei.edu.br/downloads/carneiro.zip (acessado em 16/12/2008)
- ↑ Ferrocimento. (manual sobre preparo e aplicação do ferrocimento) http://www.banet.com.br/construcoes/materiais/ferrocimento/ferrocimento.htm (acessado em 16/12/2008)
- ↑ Vieira, Itamar. Sanitário Compostável. Publicado em 20/04/2006. http://www.setelombas.com.br/2006/04/20/sanitario-compostavel (acessado em 16/12/2008)
Ligações externas
- Rede Global de Ecovilas
- Gaia Trust
- Auroville - Ecovila na Índia
- Damanhur - Ecovila na Itália
- - Ecovila em Portugal
- - Sobre ecovilas, ecoconstruções e ecohabitação
Ver também
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecovila
Ecovilas são modelos sustentáveis e alternativas viáveis contra um possível colapso
O momento é crucial para considerar uma utilização mais racional dos recursos naturais, tratando a sustentabilidade em seus aspectos globais de importância econômica, social, cultural, ambiental, chaves para a continuidade da sociedade humana, em melhor harmonia com o seu habitar sobre a Terra. O atual panorama de desenvolvimento mundial resulta em uma incessante busca por alternativas para uma sociedade mais harmônica. Um movimento surgido nas décadas de 1960 e 1970, no Hemisfério Norte, como a Auroville, na Índia, e onde a Alemanha foi e é até hoje grande precursora, as ecovilas simbolizam a busca por um novo modo de vida e, diferentes das antigas comunidades alternativas, agora são reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) como modelos de sustentabilidade. Em um número que já alcança mais de 15 mil no mundo, de acordo com a Rede Global de Ecovilas (GEN), maior entidade do setor, que tem associados no Brasil, abrigando entre 20 e 3 mil pessoas, elas demonstram que pequenas atitudes fazem toda a diferença.
"Elas primam pela diminuição dos impactos ambientais desde os processos construtivos até todo o tempo de vida da edificação, passando pela fase de alvenaria, telhados verdes e pisos, até o controle de emissão de poluentes e geração de lixo e esgoto, como fossa séptica que permite o reaproveitamento do lodo residual como matéria-prima para adubo nas plantações, que também é feito a partir da decomposição do lixo humano orgânico, devidamente separado. É todo um modo de viver ecológico que muitas vezes significa mudanças radicais, certamente valiosas", ressaltam os arquitetos Daniel Quintão e Frederico Prates, da O3L Arquitetura. Essas comunidades também seguem documentos socioambientais de referência, como a Agenda 21, resultado da Eco-92, realizada no Rio.
"Elas primam pela diminuição dos impactos ambientais desde os processos construtivos até todo o tempo de vida da edificação, passando pela fase de alvenaria, telhados verdes e pisos, até o controle de emissão de poluentes e geração de lixo e esgoto, como fossa séptica que permite o reaproveitamento do lodo residual como matéria-prima para adubo nas plantações, que também é feito a partir da decomposição do lixo humano orgânico, devidamente separado. É todo um modo de viver ecológico que muitas vezes significa mudanças radicais, certamente valiosas", ressaltam os arquitetos Daniel Quintão e Frederico Prates, da O3L Arquitetura. Essas comunidades também seguem documentos socioambientais de referência, como a Agenda 21, resultado da Eco-92, realizada no Rio.
As ecovilas são modelos de assentamentos humanos sustentáveis, comunidades intencionais baseadas numa gestão ecológica que focaliza a integração das questões culturais e socioeconômicas como parte de um processo de crescimento compartilhado. "O respeito ao meio ambiente é buscado em vários níveis: no social, de governança, decisão das ações, comemorações e tradições; na dimensão dos recursos, como serão construídas as casas, com impacto controlado, utilizando matéria-prima local (bioconstrução); de produção do próprio alimento; redes de troca entre os habitantes, cada um com uma função; tratamento de resíduos; utilização de energias renováveis (eólica, solar, aquecedor solar, forno solar, aquecimento e refrigeração, hidráulica, energia em combustão, bio-digestores); reuso de água", destaca o arquiteto fundador do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (IPEMA), Marcelo Bueno. Elas normalmente são gerenciadas por um conselho responsável pela organização participativa e a tomada de decisões que permitem o desenvolvimento orgânico das atividades e projetos comunitários. Muitas têm buscado a utilização de técnicas modernas, a criação de novas tecnologias e a combinação com velhos conhecimentos.
Funcionando em Ubatuba em uma área de 25 alqueires de Mata Atlântica pouco tocada, desde 1999, o IPEMA tem capacidade para receber 20 pessoas. Utiliza a permacultura como a ferramenta para criar o planejamento, os projetos e o design sustentável com a proposta de ser uma ecovila. Construções em terra crua, banheiros secos onde os dejetos humanos são reaproveitados para adubo em plantações, energia gerada por microturbinas e paineis fotovotaicos, emissão zero de lixo e produção independente de alimentos são apenas alguns dos fatores que demonstram esse modo de vida mais integrado com o meio. "Estamos chegando a um ponto próximo de um colapso mundial de esgotamento de recursos. A grande importância das ecovilas é ser um exemplo real que pode ser replicado em bairros, comunidades, favelas, e até cidades grandes, como uma estratégia fundamental de sustentabilidade e resiliência", continua Marcelo Bueno.
Na Índia, a meta da Auroville é se tornar uma cidade autosuficiente para 50 mil habitantes - hoje são cerca de 2 mil. Outro exemplo é Damanhur, no norte da Itália. Com mais de mil moradores de diversas nacionalidades, Damanhur tem Constituição e unidade monetária próprias, além de um jornal diário, escolas e uma universidade "livre". Os arquitetos Daniel Quintão e Frederico Prates também citam o bairro ecológico Vauban, em Fribourg, na Alemanha, revitalizado há alguns anos, onde são utilizados mecanismos de reaproveitamento de água pluvial, iluminação e ventilação naturais, brises, compostagem de resíduos orgânicos, coleta seletiva, placas coletoras de energia solar, tetos verdes sobre algumas edificações.
Outra região revitalizada em Zurique, Oerlikon, era uma antiga área de galpões industriais que foi transformada em área residencial. No Brasil, além do IPEMA, eles destacam o Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, em Pirenópolis (GO), fundada há 11 anos, onde estão cerca de cem famílias. "As mudanças partirão mesmo das ações individuais. No Brasil, por exemplo, o clima tropical dá todas as condições favoráveis para esses tipos de estrutura. O problema é a falta de informação, que não deixa crescer a demanda, o que esperamos que mude rapidamente", completam.
"As ecovilas estão espalhadas pelo mundo todo. A rede global GEN é uma excelente referência, pois lá se encontram grande parte das ecovilas e comunidades existentes no mundo. A cada dia que passa esse movimento fica mais forte, já é possível observar que a busca por uma qualidade de vida melhor e mais saudável está aumentando e as ecovilas acabam por se tornar modelos e referências desse estilo de vida. Essa tendência deve aumentar cada vez mais. No Brasil já existem diversas ecovilas. A formação delas é extremamente importante, pois é um exemplo de que o consumo desenfreado não traz qualidade de vida para ninguém. Voltar a priorizar o consumo local é uma forma de incentivar a economia local e consequentemente o convívio social", acrescentam a turismóloga e permacultora Ludmila Carvalho e o bioarquiteto e permacultor Cristóvão Laruça, diretores da Padrões Naturais Soluções Sustentáveis.
VIDA NOVA
Para tornar essa cultura mais enraizada no dia a dia, eles acreditam que é preciso focar nos exemplos de pessoas que já fizeram essa transição. "Participar de cursos, visitar ecovilas e conversar com pessoas que vivem de forma mais sustentável é extremamente importante. A busca por informações é fácil, pois hoje tudo está na internet, porém a mudança real de hábitos requer um compromisso pessoal e muitas vezes é bom ter pessoas acompanhando esse processo e facilitando as mudanças". Já existem ecovilas urbanas e isso mostra que o movimento não está restrito às zonas rurais, destacam Ludmila e Cristóvão. "Há também o movimento Transition Tows (Cidades em transição). Em resposta ao duplo desafio do Pico do Petróleo e da Mudança Climática, algumas comunidades pioneiras na Grã-Bretanha, Irlanda e outras localidades assumiram uma abordagem integrada e inclusiva para reduzir suas pegadas de carbono e aumentar sua capacidade de resistir à mudança fundamental que acompanhará o Pico do Petróleo. Todos esses conceitos e alternativas são passados principalmente através de cursos, workshops e vivências. A mudança de paradigmas e hábitos não é fácil e deve ser realizada de forma que a pessoa internalize isso da forma mais harmoniosa possível".
A aposentada Rejane de Oliveira, de 69 anos, mora há dez no Vale das Borboletas, em Caeté, que tenta funcionar como uma ecovila. Apesar de ainda incipiente, já existe a preocupação com o lixo, alimentação própria e orgânica, bioconstruções, revestimentos naturais (a casa de Rejane é pintada com terra), permacultura, além de projetos com crianças para o ensino dos preceitos da sustentabilidade. "O convívio aqui é totalmente diferente do que na cidade. As pessoas que vêm de fora facilmente percebem esta nova energia, esta motivação diferente. É tudo o que eu queria. Não sinto falta de nada que tem na cidade. Descobri como é bom viver em silêncio e em contato com a natureza, faço tudo aqui. Tudo é uma alegria", comemora.
Fonte:http://estadodeminas.lugarcerto.com.br/app/noticia/noticias/2011/04/13/interna_noticias,44643/
Ecovilas
Segundo a Global Ecovillage Network (GEN) “Ecovilas são comunidades rurais ou urbanas de pessoas, que buscam integrar um ambiente social assegurador de um estilo de vida de baixo impacto ecológico. Para atingir este objetivo, as ecovilas integram vários aspectos do projeto ecológico, permacultura, construções de baixo impacto, produção verde, energia alternativa, práticas de fortalecimento de comunidade e muito mais”
Abaixo links das ecovilas, centros de permacultura, coletivos e redes sociais correlacionadas, no Brasil e no mundo:
Permacultura
Permacultura é um método holístico para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis.
Fonte para consultas dos temas acima:
http://mbecovilas.wordpress.com/permacultura-2/
Terra Comum
A Terra Comum é uma indicação dos valores comuns desta comunidade internacional.
É um documento vivo, um código de conduta, e algo que nós usamos como uma
ferramenta para a nossa transformação, a maneira que nós nos relacionamos com
outros, o meio ambiente e, conseqüentemente, o mundo.
1. Prática Espiritual - Eu me comprometo à prática espiritual ativa e para me alinhar
espiritualmente para trabalhar para um bem maior.
2. Serviço - Eu me comprometo ao serviço ao próximo e ao nosso planeta,
reconhecendo que eu devo também servir a mim mesmo/a para poder atuar com
sucesso.
3. Crescimento Pessoal - Eu me comprometo à expansão da consciência humana,
incluindo a minha própria, e eu reconheço e mudo qualquer das minhas atitudes
pessoais ou padrões de comportamento que não servem a este objetivo. Eu assumo total
responsabilidade pelos efeitos espirituais, ambientais e humanos de todas as minhas
atividades.
4. Integridade Pessoal - Eu me comprometo a manter padrões elevados de integridade
pessoal, incorporando congruência de pensamento, palavra e ação.
5. Respeitando Outros - Eu me comprometo de coração a respeitar todas as pessoas(suas
diferenças,pontos de vista, suas origens e problemas), outras pessoas e a propriedade
comunitária, e todas as formas de vida, considerando tudo isto como sagrado e aspectos
do processo divino.
6. Comunicação Direta - Eu me comprometo a usar uma comunicação clara e honesta,
escutando abertamente, respondendo com o coração, aceitando amorosamente e
diretamente. Publicamente e em privado eu não falarei em uma maneira que calunie ou
humilhe outros. Eu falarei com as pessoas em vez de falar delas. Eu posso procurar
conselho útil, mas não procurarei conspirar.
7. Reflexão - Eu reconheço que qualquer coisa que eu veja fora de mim – qualquer
criticismo, irritações ou apreciações - podem também ser reflexões do que esta dentro
de mim. Eu me comprometo a olhar dentro de mim antes de refleti-los a outros.
8. Responsabilidade - Eu me responsabilizo por minhas ações e por meus erros. Eu
estou disposto/a a escutar criticismo construtivo e oferecer critica construtiva a outros
de uma forma apropriada, a desafiar e apoiar para o crescimento mutuo.
9. Não-Violência - Eu concordo não infringir minhas atitudes ou desejos (incluindo
sexual) a outros. Eu concordo em me envolver e parar, ou pelo menos dizer que eu
gostaria que parassem, as ações (incluindo manipulação ou intimidação) que eu sinta
que possam ser abusivas para mim ou para outros na comunidade.
10. Perspectiva - Eu me responsabilizo a trabalhar diretamente e pôr de lado os meus
problemas pessoais para o benefício da comunidade inteira. Eu resolverei todos os
conflitos pessoais e de negócios o mais cedo possível. Eu reconheço que pode haver perspectivas mais amplas do que as minhas próprias e problemas mais profundos do que
aqueles que podem imediatamente me concernir.
11. Cooperação - Eu reconheço que eu vivo em uma comunidade espiritual e que ela
funciona somente através da minha cooperação e da minha boa comunicação. Eu
concordo comunicar claramente minhas decisões. Eu concordo comunicar com outros
que podem ser afetados por minhas ações e decisões e considerar seus pontos de vista
cuidadosamente e respeitosamente. Eu reconheço que outros podem fazer decisões que
me afetam e eu concordo respeitar o carinho, a integridade e a sabedoria que eles
puseram no seu processo de tomada de decisão.
12. Definição - Eu me comprometo a fazer todo o esforço para resolver disputas. Em
qualquer altura em uma disputa eu poderei pedir a presença de a um conselheiro, um
amigo, um observador independente ou um mediador. No evento da disputa continuar
não resolvida, eu terei o acesso a um procedimento da queixa. Eu me comprometo a
seguir este procedimento (para ser decidido pela comunidade).
13. Acordos - Eu me comprometo a manter acordos que eu fiz e não burlar ou tentar
escapar nenhumas leis, réguas, ou linhas de conduta; fazer transações honestas com
todos e pagar todas as dívidas que devo.
14. Compromisso - Eu me comprometo a exercitar o espírito desta indicação da Terra
Comum em todas as minhas transações.
Desenvolvido pela Fundação Findhorn - www.findhorn.org
10
pontos para comunidades do futuro de Dieter Duhm
Cada
comunidade do futuro é em princípio um biótopo de cura, senão não poderia
funcionar e não conseguiria
sobreviver
na rede da vida no mundo. Um biótopo de cura é uma comunidade de seres humanos,
animais e plantas
que se
complementam e apoiam mutuamente atravês da comunicação. Este facto
confere-lhes uma elevada
possibilidade
de se desenvolverem e uma grande capacidade de sobrevivência. Em seguida,
enumeram-se
algumas
características de comunidades do futuro que funcionem. Elas estão
profundamente ligadas a uma visão
muito
precisa de um modo fundamentalmente diferente de convivência e de comunicação
entre si. Quando
falamos
de convivência, falamos da convivência entre os seres humanos, da convivência
dos seres humanos com
a
natureza e com os seus seres, da convivência dos seres humanos com o universo e
com seus seres. Em todos os
três
níveis- social, ecológico e espiritual- ocorre uma transformação concreta e
definitiva que nos torna capazes de
sobreviver
uma vez que esta transformação nos re-integra no grande todo.
1.
"Só tribos irão sobreviver»
Esta
frase do líder índio americano Vine Deloria talvez seja algo exagerada, mas
contém uma verdade central: na
maioria
dos casos, as forças individuais de cada um não serão suficientes para
possibilitar uma sobrevivência com
sentido.
Para tal, precisamos de uma nova forma de forças comunitárias e espirituais.
Precisamos da ligação
energética
com a comunidade, com a bioesfera e com o universo.
2. O eu
comunitário
Em
comunidades que funcionem surge um eu comunitário que reune todas as forças do
eu individual. O eu
comunitário
é um desenvolvimento maior na escala da evolução dos organismos. Ele é muito
superior em força e
inteligência
ao eu individual e pode, com a sua energia espiritual, superar situações de
fome, frio ou dor que seriam
demasiado
difíceis para o organismo individual. O eu comunitário está em plena capacidade
de funcionamento
quando
deixar de haver colisões desnecessárias entre os seus indivíduos e quando cada
eu individual tiver
despertado
para a completa participação responsável no todo.
3.
Individualidade
A força
superior do eu comunitário não pode surgir se se homogeneizar o modo como os
participantes de uma
comunidade
se relacionam. Os membros das comunidades futuras terão de superar
completamente a sua
tendência
para o colectivismo e para a uniformidade, como é veiculado pelas várias
correntes e media actuais. Este
é o
pré-requisito para que possam contribuir com responsabilidade própria na ideia
de comunidade do futuro. A
força
autêntica das comunidades depende da autêntica autonomia individual dos seus
membros.
Consequentemente,
as comunidades do futuro apoiam e cuidam de todos os processos internos que
aperfeiçoam
o
processo da individualidade. Este princípio é importante e decisivo para o
amor. Homem e mulher, mulher e
homem,
mulher e mulher, homem e homem só poderão encarar-se de um modo amoroso por
muito tempo, se se
encontrarem
como indivíduos responsáveis e não como segmentos de um partido, de uma igreja
ou de uma
ideologia.
Eles devem poder perceber-se e amar-se em cada momento no seu trajecto
conjunto, quando estiverem
livres
da pressão colectiva de qualquer grupo. O Eros vive desta liberdade, pois aqui
surge a intimidade na qual se
pode
confiar.
4.
Transparência
A
qualidade fundamental que caracteriza uma comunidade capaz de funcionar é a sua
transparência:
transparência
na criação de grupos, transparência nas relações amorosas, transparência nos
processos de poder
e
transparência nos processos de decisões. Sem transparência não há confiança,
não há comunicação aberta e
não há
um eu comunitário. Acomunidade do futuro desenvolve fóruns públicos para tornar
transparente a vida em
conjunto
de todos os seus membros. Os próprios membros descobrem uma grande alegria em
não ter de mentir
mais.
5.
Verdade
Averdade
é necessária para a transparência. Averdade é o oposto da nossa forma de ser
hoje, porque temos vindo
a ser
obrigados a mentir desde a mais tenra infância. Agora, compete a nós continuar
a seguir este hábito ou
reunirmos
reforços para desenvolvermos um novo tipo de convivência. A mentira impede o
desenvolvimento do
amor e
a criação de comunidades, bloqueia a transparência e dificulta a comunicação
com os seres da natureza.
Um
critério decisivo para avaliar a capacidade de alguém pertencer à comunidade é
a sua capacidade e prédisposição
para a
verdade. Mas isso só pode ser alcançado quando os motivos para a mentira
tiverem sido
superados.
As comunidades do futuro desenvolverão um sistema de vida e de amor que não
forçará mais ninguém
a
mentir. Poder-se-á imaginar tal: uma comunicação livre, transparente, sem mentiras
entre humanos? Amantes
que não
tem mais de esconder-se devido a falsas promessas de eterna fidelidade?
Crianças que não ouvirão mais
mentiras
da boca dos seus pais? E seres humanos que também não mentirão mais aos
animais? Sob estas
condições
não se poderá mentir tão facilmente a um peixe, com uma isca num anzol. Este
conceito de verdade
conduz-nos
a um nível mais profundo, no qual está baseado a vida das novas comunidades.
Onde surge verdade
desenvolve-se
confiança. E onde surge confiança, surge a cura entre todos os seres. Averdade
está numa ligação
tão
íntima com as ideias de transparência, de ecologia, da não-violência e do amor
livre que os pontos 4 a 8 criam
uma
unidade espiritual. As comunidades do futuro sobrevivem graças à sua capacidade
de comunicação, e esta,
está
directamente relacionada com o grau de verdade nas suas vidas. Onde a verdade
se instalou completamente,
surgem
novas possibilidades de comunicação, quer sob a forma espiritual, quer sob a
forma telepática.
6. Não-
violência
Só
podemos descobrir e aprofundar a vida se entrarmos num estado de não-violência
diante de todas as criaturas
deste
mundo. Onde usamos violência, surgem sistemas de comunicação e informações
errados. A violência que
usamos
contra outros seres volta sempre a nós sob a forma de medo. A violência cria um
desfiladeiro na
comunicação
universal, um desfiladeiro no desenvolvimento humano e um desfiladeiro na
bioesfera. Nos novos
sistemas
de cultura, a violência não pode continuar a ser usada como factor de
favorecimento na evolução, pois
onde há
violência há sempre medo e mentira, e um retrocesso em todo o sistema de vida.
Saberíamos hoje muito
mais
acerca de animais, plantas e todos os seres da natureza, inclusivé nós mesmos,
se nunca tivéssemos usado
de
violência contra eles. As razões para a violência estão enraízadas no próprio
ser humano, na permanente
pressão
para a mentira, nos potenciais de energia não vividos, num conceito errado de
amor, de sexualidade e de
fidelidade.
Portanto, a não violência não é uma fórmula moral, mas sim a palavra-chave para
uma criação de uma
cultura
diferente fundamental.
7. Amor
livre
Amor
lvre significa "amor livre de medo e fingimento". A comunicação
universal da comunidade do futuro é um
contacto
sem medo com todos os seres da criação. Neste novo sistema não faz mais sentido
bloquear o poder do
amor
com qualquer tipo de proibições. Amor livre entre os sexos é, sobretudo, o
princípio central de abertura e de
verdade,
seja esta mental, espiritual, sexual ou todos em conjunto. Amor livre é uma
realidade na nossa existência,
quando
a mentira, o medo e a humilhação forem eliminados das relações de amor. As
comunidades do futuro sem
amor
livre seriam uma contradição em si e, como tal, não seriam capazes de
sobreviver.
8.
Biótopo e co-criaturas
Todos
os seres são diferentes formas de vida ou diferentes "estados de
agregação" do grande espírito universal.
Daí que
todos os seres vivem em permanente comunicação espiritual entre si. Vamos
aprender a comunicar com
plantas
e animais do mesmo modo como fazemos com os nossos irmãos, porque aqueles estão
animados com a
mesma
energia espiritual, tal como nós. Alguns deles são ainda como embriões ou
crianças da criação e querem
desenvolver-
se segundo uma entelequia que guia todos os seres ao mesmo objetivo. Nós como
seres humanos
temos a
possibilidade de reconhecer tudo isto e de ajudar as co-criaturas no seu
desenvolvimento. Por sua vez,
elas
irão também ajudar- nos, pois tudo na criação é recíproco. As ervas medicinais
aparecerão nos lugares onde
são
necessárias, se aprendermos a comunicar ao seu nível. Os animais vêm e vão, se
aprendermos a comunicar
ao seu
nível. Os Bishnoi na Índia, os Aborígenes na Austrália, algumas tríbos
indígenas e provavelmente também
algumas
na África dão-nos uma idéia do que significa comunicar com seres no seu nível.
As comunidades do futuro
irão
reencontrar e aplicar estes conceitos da conciência arcaica a um novo nível.
9.
Auto-suficiência
Os
sistemas existentes da civilização ocidental globais estão baseados nos
sistemas de conquista do colonialismo
e
imperialismo. Estão intrinsecamente impregnados de violência, de mentira e de
medo e, por isso não possuem as
capacidades
de comunicação que são necessárias para a sobrevivência. Portanto, as
comunidades do futuro tem
de
alcançar um alto nível de autarquia em todas as áreas, que as torna
independentes dos sistemas existentes de
abastecimento.
Auto-suficiência completa tem de ser alcançada nas áreas do abastecimento de
água, na
alimentação,
na energia e na medicina. Em ligação com o mandamento da autarquia surge uma
pergunta
interessante:
quão grandes terão de ser as comunidades do futuro para que se possa realizar a
autarquia? A
resposta
naturalmente só pode resultar da experiência, mas veremos que não podem ser
demasiado pequenas. Se
queremos
atingir a autarquia em comunidades pequenas (abaixo de 100 pessoas),
provavelmente catapultarnosemos
de
volta à idade da pedra. Mas as comunidades do futuro tem de reunir em si um
elevado grau de variedade
cultural,
tecnológica, espiritual e biológica, para poder desenvolver a complexidade
necessária para uma criação
global
de cultura.
10.
Criação global de cultura
Quando
as comunidades do futuro estiverem em ressonância com o corpo vital da Terra,
elas terão um impacto
global.
Isto não é uma esperança fiel, mas sim uma lei científica, pois o corpo vital
da Terra é, juntamente com a
biosfera,
um organismo uniforme, e se ele recebe pela cultura não-violenta do biótopo da
cura uma informação
nova,
então esta tem efeito em todos os seus orgãos. Se o sistema vital das
comunidades vindouras for compatível
com o
sistema vital da bioesfera e da criação, então basta um impulso, numericamente
pequeno para mudar o total.
O
primeiro biótopo de cura é um cristal da cultura global, que logo vai provocar
parecidas cristalizações
semelhantes
em todo o mundo. Esperamos nas próximas três décadas o surgimento de fundações
parecidas no
sudoeste
dos EUA; na América do Sul, na África, na Austrália e em outras regiões da
Terra. A criação de culturas da
nova
época vai resultar de uma rede de centros planetários deste tipo.
Dieter
Duhm
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