

AVES GIGANTES DA ANTÁRTIDA ESTÃO CONTAMINADAS POR
AGROTÓXICOS
10/08/2016
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Pesquisadores
confirmaram a presença de contaminantes orgânicos no sangue de petréis-gigantes
do sul de diversas colônias na Península Antártida. Estudos de carcaças e
outros tecidos já tinham dado sinais da contaminação, agora confirmados a
partir de amostras de sangue em que foi detectada a presença de diversas
substâncias nocivas, entre as quais o DDT, pesticida banido nos Estados Unidos
em 1972, quando se constatou que seu uso ameaçava a sobrevivência de diversas
espécies de aves de rapina.
A pesquisa foi
realizada pela bióloga Fernanda Imperatrice Colabuono, do Instituto
Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Ela estudou os animais das
colônias de petréis-gigantes das ilhas Elefante e Livingston, no arquipélago
das Shetland do Sul, na Península Antártida.
O
petrel-gigante-do-sul (Macronectes giganteus) é um animal magnífico e um
importante predador de topo no Atlântico Sul e Oceano Austral. Com envergadura
de asas de cerca de dois metros, é uma das maiores aves voadoras do planeta,
menor apenas que o albatroz e o condor. São também longevos. Petréis-gigantes
podem viver mais de 50 anos. Passam a vida nos céus dos mares do Sul do
planeta, à procura de comida.
Nos verões
antárticos de 2011/2012 e 2012/2013, a bióloga coletou amostras de sangue de
113 indivíduos e constatou a presença de contaminantes orgânicos como bifenilos
policlorados (PCBs), hexaclorobenzeno (HCB), pentaclorobenzeno (PeCB),
diclorodifeniltricloroetano (DDTs) e derivados, o pesticida clordano (banido
nos Estados Unidos em 1988) e o formicida Mirex (banido nos Estados Unidos em
1978 e recentemente no Brasil).
Segundo Fernanda,
todos esses poluentes orgânicos são persistentes no meio ambiente, têm ação
cancerígena, causam disfunção hormonal e problemas reprodutivos. Os resultados
foram publicados num artigo em Environmental Pollution.
A pesquisadora
afirma que, comparado aos níveis de contaminação nas aves do hemisfério norte,
os níveis de contaminação detectados nas colônias de petreis na Península
Antártida ainda são baixos. O objetivo agora é monitorá-los no longo prazo,
para se “ter um indicativo da tendência de aumento ou decréscimo desses
contaminantes ao longo dos anos no ambiente em que estas aves vivem”, diz a
bióloga.
Cadeia de contaminação
O DDT é
transportado pelo ar e pela chuva. Uma vez em rios e lagos, se acumula na
cadeia alimentar. Os insetos contaminados são comidos por peixes e estes por
outros predadores. Em cada patamar da cadeia alimentar o nível de acúmulo de
DDT nos tecidos aumenta.
Seus efeitos
nocivos se tornam mais visíveis quando se atinge o ápice da cadeia, nos
predadores de topo. O petrel-gigante é um deles. Ele se alimenta de peixes,
lulas e até de carcaças de outras aves. Ou seja, no trajeto de uma longa vida,
ao comer centenas de quilos de peixes contaminados, a quantidade de
contaminantes nos tecidos do petrel sempre aumenta.
Foi o que aconteceu
nos Estados Unidos com os falcões-peregrinos e os condores da Califórnia. Nos
anos 1960, suas populações começaram a declinar dramaticamente. Os condores
chegaram a contar apenas umas poucas centenas de indivíduos. Estavam a um passo
da completa extinção.
Foi quando se
descobriu o papel do DDT naquela tragédia. Ao se acumular no corpo das fêmeas
adultas, o DDT era repassado à casca de seus ovos, que se tornavam finas e
frágeis, partindo com grande frequência. A reprodução da espécie estava
ameaçada. Em 1972, a produção, comercialização e o uso do DDT foram banidos nos
Estados Unidos. Com o tempo, as populações de falcões e condores começaram a se
recuperar.
O Brasil é
atualmente o maior consumidor mundial de agrotóxicos. O uso do DDT foi proibido
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas em 2009 – mas,
como ele persiste no meio ambiente, sua presença ainda é detectada nos tecidos
de animais como o petrel. A preocupação de Colabuono em acompanhar a vida de
seus petréis-gigantes tem fundamento.
http://www.ecoguia.net/noticias/aves-gigantes-da-antartida-estao-contaminadas-por-agrotoxicos/


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