EVOLUÇÃO DAS ÁRVORES É AMEAÇADA PELO HOMEM

O tucano e outras aves grandes dispersam a semente do palmito-juçara pela mata atlântica (REVISTA SCIENCE/DIVULGAÇÃO)
O tucano e outras aves grandes
dispersam a semente do palmito-juçara
pela mata atlântica.

Evolução das árvores é ameaçada pelo homem

Em pesquisa publicada na Science, cientistas relacionam a extinção de aves de grande porte, como o tucano, à redução do tamanho de palmeiras na Mata Atlântica. O estudo, coordenado por um brasileiro, sinaliza que o problema se repete em outras florestas do mundo.

Toda a biodiversidade da Mata Atlântica está em perigo. E uma das causas do problema é a extinção dos pássaros de grande porte que habitam a floresta. A descoberta, que contou com a participação de pesquisadores brasileiros, foi detalhada em um estudo divulgado na edição de hoje da revista Science. No trabalho, feito em parceria com cientistas da Espanha e do México, os especialistas mostram que a extinção local das aves pode influenciar a evolução das árvores e, consequentemente, o equilíbrio da região. Isso porque os animais são os grandes responsáveis por espalhar sementes pela floresta, ferramenta importante para o desenvolvimento das plantas.

Aqui no Brasil, o estudo foi coordenado pelo professor Mauro Galleti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Há algum tempo, sabe-se que as aves possuem um papel importante para as plantas, seja polinizando flores ou comendo os frutos e dispersando as sementes. A extinção das aves pode, portanto, ter efeito sobre a ecologia das plantas que dependem delas para se reproduzir. Mas nunca havia sido demonstrado que a extinção de aves grandes pelo homem, como os tucanos, pode mudar a evolução das plantas”, explica o biólogo.

No estudo, a palmeira conhecida como palmito-juçara foi analisada detalhadamente em 22 áreas da Mata Atlântica durante cinco anos. Os cientistas notaram que, nas regiões onde os tucanos haviam sido extintos há pelo menos 50 anos, as palmeiras passaram a produzir frutos pequenos, ao contrário das partes ainda habitadas pelas aves grandes. Nesse caso, elas têm frutos de tamanhos variados. “Como os sabiás possuem boca pequena, eles não conseguem comer e dispersar os frutos grandes que caem embaixo da palmeira e não geram novas plantas”, compara o pesquisador.

Galleti pondera que o processo é ainda mais preocupante quando se leva em consideração que ambas as espécies escolhidas no estudo — o palmito-juçara e os tucanos — são alvo da ação predatória do homem. Apenas sete caçadores ouvidos pelos pesquisadores afirmaram ter abatido 500 tucanos em um ano. “Dentro da floresta, o palmito é fonte alimentar de mais de 50 espécies de aves, como papagaios, sabiás, jacus, arapongas e tucanos. Mas também é bastante conhecido na culinária brasileira. Hoje, está ameaçado de extinção justamente por esse processo de alta industrialização”, explica.

Os efeitos dessa junção de problemas no meio ambiente podem ser devastadores, complementa o biólogo. “Na ausência de aves grandes, apenas as sementes pequenas acabam gerando novas plantas e, ao longo do tempo, apenas sementes pequenas serão encontradas na natureza”, explica. O pesquisador acredita que o estudo desenvolvido na Mata Atlântica pode ser replicado para outras florestas tropicais do mundo. A estimativa é de que, nesses locais, de 60% a 90% das espécies de árvores são disseminadas por animais que se alimentam de frutas ou vegetais.

Efeito cascata


Para Galleti, outro ponto importante do estudo é a ideia de que a seleção natural, demonstrada por Charles Darwin há mais de 100 anos, não é tão demorada como se imagina. “Com as informações coletadas na Mata Atlântica, percebemos que o impacto humano, causando a extinção de aves grandes, seleciona rapidamente as plantas com sementes pequenas. E, como as previsões climáticas futuras sugerem períodos mais secos e mais severos, as sementes pequenas provavelmente não germinarão” completa.

Bióloga da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Cibele Castro também projeta as consequências da extinção das grandes aves. “Caso esse desequilíbrio tenha continuidade, é possível que ocorra um efeito cascata e que outras plantas e aves possam vir a ser prejudicadas. É preciso que esse animais continuem com esse trabalho de pequenos agricultores para que o equilíbrio da floresta não seja comprometido.”

Antonio Carlos Nogueira, engenheiro florestal da Universidade Federal do Paraná (UFP), pondera que as sementes pequenas não geram apenas árvores pequenas — um dos indícios apontados na pesquisa de que a Mata Atlântica corre perigo —, mas ele ressalta que a preocupação em torno da relação entre a existência de aves de grande porte e a preservação de florestas não pode ser ignorada. “Mesmo considerando que sementes pequenas geram também árvores grandes, o trabalho (divulgado na Science) é bastante válido, já que as aves maiores são de vital importância para o desenvolvimento das florestas”, avalia.


Fonte:http://www.em.com.br/app/noticia/tecnologia/2013/05/31/interna_tecnologia,397315/

Comentários