'FRACO E OMISSO", DIZEM AMBIENTALISTAS SOBRE RASCUNHO DE TEXTO FINAL DA COP30: CIENTISTAS ASSOCIAM FALTA DE MENSAO A COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS EM RASCUNHO DO TEXTO FINAL À 'TRAIÇÃO'
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'Fraco e omisso', dizem ambientalistas sobre rascunho de texto final da COP30
Presidência brasileira apresentou esboço sem qualquer referência à redução de combustíves fósseis e gera críticas. Texto pode mudar ao longo do dia
Por
O GLOBO
— Rio de Janeiro
21/11/2025 09h07 Atualizado há um dia
Diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali afirmou que a entidade rejeita o segundo texto “Mutirão”. Para a ativista, a COP30 demonstrou "um apoio crescente a um roteiro para o abandono dos combustíveis fósseis":
— Portanto, o resultado de Belém deve incluí-lo para garantir que acabemos com a queima de petróleo, gás e carvão o mais rápido possível. Relatórios e mais negociações não são suficientes. Precisamos de um plano de resposta global — ressaltou Carolina.
A diretora também destacou que, caso o assunto não seja contemplado pela presidência da conferência, não há outra opção senão os países rejeitarem e devolverem o texto para revisão.
— Havia esperança nas propostas iniciais dos mapas do caminho para acabar com o desmatamento e com os combustíveis fósseis, mas esses mapas desapareceram e estamos novamente perdidos, sem um roteiro concreto para atingir 1,5°C, tateando no escuro enquanto o tempo se esgota — completou.
Rebecca Newsom, especialista em políticas financeiras do Greenpeace Internacional, também apontou que o financiamento climático foi prejudicado no texto. As propostas para triplicar o financiamento para adaptação e estabelecer um programa de trabalho sobre financiamento climático, de acordo com ela, não são "suficientemente robustas".
- 'O cordão de seguranças varreu para fora até o ministro que buscava nos acalmar', narra repórter do GLOBO em Belém
'Não pode ser aceito como resultado'
Em nota, o Observatório do Clima afirmou que o texto "é desequilibrado e não pode ser aceito como resultado da conferência". A entidade definiu o rascunho apresentado como sendo "fraco e omisso" por não atender à determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o apoio de 82 países, de fornecer um roteiro para implementar a transição para longe dos combustíveis fósseis.
"Os roadmaps para combustíveis fósseis e desmatamento sucumbiram à pressão de alguns países petroleiros, e a resposta à lacuna de ambição, fundamental para países insulares que estão afundando sob o oceano em elevação, virou um relatório a ser produzido em três anos e sem nenhuma perspectiva de encaminhamento concreto", destacou a entidade. "Belém não poderá ser considerada bem-sucedida caso esses desequilíbrios permaneçam nas decisões da COP30", completou.
Na mesma linha, o pesquisador Carlos Nobre, um dos mais respeitados na área do clima, disse à Globonews que a ausência dos combustíveis fósseis é preocupante e que vai agravar o aquecimento global:
— Vamos passar de 2ºC até 2025 sem reduzir os fósseis — disse.
Presidente da Iniciativa do Tratado sobre Combustíveis Fósseis, o ativista Kumi Naidoo também criticou o texto do presidente da COP, André Corrêa do Lago. Segundo Naidoo, a atual proposta está "muito aquém do que as pessoas nas ruas de Belém e nos corredores da COP exigem e do que o próprio presidente Lula defendeu".
— Não podemos nos dar ao luxo de esperar mais um ano por outro sinal político fraco enquanto comunidades inteiras queimam e se afogam — afirmou Naidoo.
'Rumo ao abismo climático'
Desde a divulgação dos documentos, diversas entidades ambientalistas publicaram manifestações, lamentando a ausência do mapa do caminho sobre combustíveis fósseis. O Instituto Internacional Arayara apontou que esse resultado, se confirmado, compromete a promessa de "COP da Implementação".
— Sem uma meta para eliminação dos combustíveis fósseis nesta COP 30, o "mapa do caminho" nos levará rumo ao abismo climático. Onde está a COP da Verdade, a COP da implementação?? Ponto de não retorno é o que veremos se o texto final desta conferência deixar de fora as metas concretas para eliminação dos combustíveis fósseis — afirma Nicole Oliveira, diretora executiva do Arayara
Juliano bueno de Araújo - Conselheiro do Conama e diretor do Arayara disse que o rascunho divulgado "não é um balde de água fria e sim um balde de água escaldante na vida planetária”.
Tatiana Oliveira, especialista em Clima e líder de Estratégia Internacional do WWF-Brasil também criticou a ausência dos dois mapas de caminho prometidos, o dos combustítveis fósseis e o do desmatamento zero até 2030:
— É é a recusa de uma tarefa histórica. A COP30 é, possivelmente, a última oportunidade nas próximas décadas para alcançar uma decisão no nível de ambição que esses roadmaps apontam. Uma COP realizada no coração da Amazônia que não traz uma mensagem clara e vinculante sobre a conservação de florestas envia um sinal profundamente preocupante ao mundo. É mais do que uma lacuna técnica: é uma chance perdida. E um regime climático que falha justamente quando tem a Amazônia diante de si corre o risco de comprometer sua própria credibilidade.
A AcionAid também divulgou nota cobrando mais efetividade no acordo. Um dos pontos criticados é o impasse sobre o tema de financiamento climático.
— A falta de financiamento por parte dos países ricos reduz a ambição em todos os eixos. Estamos vendo agora os frutos amargos do resultado frágil sobre financiamento alcançado na COP29, em Baku, no ano passado. A única luz de esperança na COP30 é a proposta de um novo mecanismo de transição justa, criado para garantir que trabalhadores, mulheres e comunidades se beneficiem, em vez de serem prejudicados, pela ação climática — explicou Teresa Anderson, líder global de Justiça Climática da ActionAid Internacional.
Para a Oxfam, ONG de combate à desigualdade, o texto da COP30 é 'inaceitável' e falha com comunidades na linha de frente de desastres climáticos. Segundo Nafkote Dabi, líder de Política Climática da Oxfam Internacional, as nações ricas deveriam se comprometer com pelo menos US$ 120 bilhões por ano em financiamento para adaptação, além de levantar os fundos restantes para cumprir a meta anual de US$ 300 bilhões em financiamento climático acordada na última COP.
— Os líderes mundiais estão apostando com o planeta — e com a vida das pessoas mais pobres. Os países ricos estão tratando o financiamento para adaptação como moeda de troca. Mas o financiamento para adaptação é um bote salva-vidas para todas as pessoas, desde agricultores enfrentando safras perdidas até famílias já deslocadas por desastres climáticos — disse Dabi.
Belém, 21 de novembro de 2025. Em resposta ao último texto do 'Mutirão', Nafkote Dabi, líder de Política Climática da Oxfam Internacional, afirma: “Enquanto a COP30 corre para o seu encerramento, líderes mundiais estão apostando com o planeta — e com a vida das pessoas mais pobres. Os países ricos estão tratando o financiamento para adaptação como moeda de troca. Mas o financiamento para adaptação é um bote salva-vidas para todas as pessoas, desde agricultores enfrentando safras perdidas até famílias já deslocadas por desastres climáticos”.
Segundo ele, “As Qualquer coisa menos que isso deixa as comunidades na linha de frente perigosamente expostas”.
Mudanças na meta de indicadores de adaptação
Além de lamentar as ausências dos mapas de caminho, The Nature Conservancy (TNC) Brasil destacou outro aspecto dos documentos: a redução de 100 para 59 indicadores na Meta Global de Adaptação. O instituto disse que ainda não conseguiu analisar os itens removidos e os consequentes impactos, mas lamentou que esse texto "perdeu a linguagem de financiamento", que agora está no texto do mutirão, de forma "enfraquecida", analisa Fernanda Bortolotto, especialista em políticas climáticas da TNC Brasil.
— Menciona triplicar o financiamento para adaptação, mas de forma vaga, sem detalhar como isso será feito. A questão do financiamento precisa de uma linguagem mais forte e de um encaminhamento mais claro — disse Bortolotto.
Por outro lado, a especialista elogiou uma inclusão no texto do Plano de Trabalho de Investigação: o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e tradicionais sobre seus territórios como uma política de longo prazo para mitigação e enfrentamento das mudanças climáticas.
Prefeitos insatisfeitos
Outra entidade insatisfeita foi a C40, coalizão de prefeituras das maiores cidades do mundo, que vêm pleiteando a inclusão de municípios e governos subnacionais no texto da COP30, o que ainda não está presente no rascunho.
— Os rascunhos sugerem que várias partes estão tentando reduzir o mutirão global a cinzas. Não estamos vendo ambição suficiente sobre combustíveis fósseis, sobre uma transição justa ou sobre diálogo e ação em múltiplos níveis, áreas nas quais as cidades estão liderando e prontas para avançar mais depressa e mais longe. Há uma oportunidade clara para implementar questões centrais com parceiros subnacionais, e ela está prestes a ser perdida. — afirmou Mark Watts, diretor executivo da C40.
'Estamos profundamente preocupados'
Mais de 30 países afirmaram, nesta quinta-feira, que não irão apoiar um texto final da COP30 que não inclua um mapa do caminho para abandonar os combustíveis fósseis. Países como Alemanha, Bélgica, Colômbia, França e Reino Unido enviaram uma carta conjunta à Presidência da conferência pedindo que o tema permaneça no rascunho político. Para o grupo, a proposta não cumpre "as condições mínimas para um resultado crível" da conferência do clima.
Conforme informações da AFP, o último rascunho de texto do presidente da COP, André Corrêa do Lago, não menciona os combustíveis fósseis. O mapa do caminho é um mecanismo que cria planos de ação que estabelecem etapas, prazos e metas sobre determinado assunto.
Segundo a colunista do GLOBO Míriam Leitão, o forte bloqueio dos países dependentes do petróleo como produtores ou como consumidores, como Arábia Saudita e Índia, elevou o risco de que não haja sequer uma referência ao tema. O grupo é conhecido como LMDC ( Like Minded Developing Countries, ou, países em desenvolvimento de ideias comuns) e inclui a China.
"Não podem apoiar um resultado que não inclua um mapa do caminho justo, ordenado e equitativo para deixar os combustíveis fósseis para trás”, diz a carta dos países. "Estamos profundamente preocupados com a proposta atual, que é de pegar ou largar".
De acordo com pessoas ouvidas pela Bloomberg, no entanto, o tema gera divisão até mesmo entre a delegação brasileira. Enquanto alguns esperam aprovar um roteiro para que o mundo deixe de usar combustíveis fósseis, outros argumentam que os esforços devem se concentrar em melhorar o financiamento para a adaptação climática.
Cerca de 80 países apoiam o chamado mapa do caminho para redução de combustíveis fósseis. O assunto não está na agenda formal da COP, mas é uma prioridade do governo Lula e ganhou ainda mais atenção com a ida do presidente à Belém, sede da COP, nesta quarta-feira.
Fonte:https://oglobo.globo.com/brasil/cop-30-amazonia/noticia/2025/11/21/roteiro-de-abandono-ambientalistas-reagem-a-ausencia-de-plano-para-reduzir-combustiveis-fosseis-em-texto-da-cop30.ghtml
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Cientistas associam falta de menção a combustíveis fósseis em rascunho do texto final da COP30 à 'traição'
Especialistas apontam que ausência em medidas concretas poderá afetar pessoas mais vulneráveis às mudanças climáticas
Por
Rafael Vazquez
, Em Valor Econômico
21/11/2025 11h41 Atualizado há um dia
“Apesar de um grande número de países se unirem em torno de roteiros para acabar com a dependência de combustíveis fósseis e com o desmatamento — e do impulso dado pelo presidente do Brasil — as palavras ‘combustíveis fósseis’ estão completamente ausentes do texto mais recente. Isso é uma traição à ciência e às pessoas, especialmente os mais vulneráveis, além de totalmente incoerente com os objetivos reafirmados de limitar o aquecimento a 1,5°C e com o quase esgotamento do orçamento de carbono”, diz a carta dos cientistas divulgada nesta sexta-feira, que ao menos antes do incêndio do dia anterior na zona azul estava programado para ser o dia de encerramento da conferência.
Na visão dos renomados cientistas do pavilhão Ciência Planetária, é impossível limitar o aquecimento a níveis que protejam as pessoas e a vida sem eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento. “Nessas últimas horas, os negociadores devem trabalhar juntos para recolocar no texto os roteiros para um futuro mais seguro e próspero. A ciência está aqui para ajudar.”
Assinam a carta o brasileiro Carlos Nobre, do Painel Científico para a Amazônia; Fatima Denton, da United Nations University; Johan Rockström, do Potsdam Institute for Climate Impact Research; Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira; Paulo Artaxo, Universidade de São Paulo (USP); Piers Forster, da University of Leeds; e Thelma Krug, presidente do Conselho Científico da COP30.
Fonte:https://oglobo.globo.com/brasil/cop-30-amazonia/noticia/2025/11/21/cientistas-associam-falta-de-mencao-a-combustiveis-fosseis-em-rascunho-do-texto-final-da-cop30-a-traicao.ghtml
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