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Falta de ação contra mudanças climáticas custa milhões de vidas todos os anos, diz relatório
Novo relatório revela que 12 dos 20 principais indicadores de saúde ligados ao ambiente já atingiram níveis críticos, com mortes por calor aumentando 23% desde os anos 1990
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03/11/2025 14h25 Atualizado há 4 dias
Mais de 70 instituições internacionais apontam que 12 dos 20 principais indicadores de saúde já atingiram níveis sem precedentes. Esses dados refletem não apenas a deterioração ambiental, mas também o impacto social e psicológico de viver em um planeta cada vez mais instável.
Esse estudo foi liderado pelo University College London (UCL) e elaborado em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), detalha como o aquecimento global está alterando as condições básicas de vida humana e ameaçando décadas de avanços médicos e sociais. Os pesquisadores descrevem um cenário em que o aumento das temperaturas médias e a frequência de eventos extremos, como enchentes e incêndios, estão minando a capacidade de resposta dos sistemas de saúde e colocando em risco a sobrevivência de comunidades inteiras.
O preço humano nas mudanças climáticas
Entre 2012 e 2021, as mortes relacionadas ao calor aumentaram 23% em relação à década de 1990, alcançando uma média de 546 mil óbitos anuais. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, expondo bebês e idosos a 300% mais dias de ondas de calor em comparação com o período entre 1986 e 2005. Os efeitos dessas temperaturas extremas não se restringem à saúde física, ondas de calor prolongadas também agravam condições mentais, como ansiedade e depressão, e aumentam o risco de suicídio, segundo os especialistas citados no relatório.
As condições mais secas e quentes também intensificaram incêndios florestais. Apenas em 2024, a fumaça associada a esses eventos foi responsável por 154 mil mortes. Alinhado a isso, a exposição prolongada à fumaça tóxica tem gerado aumento nos casos de doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares. Além disso, secas e chuvas extremas aumentaram em mais de 60% da superfície terrestre, afetando a produção de alimentos e elevando os riscos de fome e desnutrição, especialmente em comunidades mais pobres e dependentes da agricultura.
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A crise climática ainda acelera a propagação de doenças infecciosas. O potencial de transmissão da dengue cresceu quase 50% globalmente desde a década de 1950, enquanto infecções causadas por bactérias do gênero Vibrio atingiram níveis recordes em regiões antes consideradas seguras. O relatório também alerta para o ressurgimento de outras doenças sensíveis ao clima, como malária e cólera, à medida que o aquecimento global altera o equilíbrio ecológico e amplia o alcance de vetores como mosquitos e bactérias.
Poluição e perdas econômicas
A queima de combustíveis fósseis continua sendo um dos principais motores dessa crise. Em 2022, a poluição do ar causou 28 mil mortes prematuras apenas no Reino Unido, mais da metade relacionadas à combustão de carvão, petróleo e gás. Globalmente, a poluição atmosférica é responsável por mais de sete milhões de mortes por ano, sendo uma das principais causas evitáveis de mortalidade.
O impacto econômico também é expressivo. Em 2024, o calor extremo resultou em 639 bilhões de horas potenciais de produtividade perdidas, equivalentes a US$ 1,09 trilhão (cerca de R$ 5,45 trilhões), quase 1% do PIB global. Os países de baixa renda são aqueles que mais sofrem, pois têm menos infraestrutura para se adaptar ao calor, e grande parte da força de trabalho atua ao ar livre, em setores como agricultura e construção civil.
Mesmo assim, os governos destinaram US$ 956 bilhões (cerca de R$ 5,35 trilhões) em subsídios a combustíveis fósseis em 2023, mais que o triplo do compromisso internacional assumido para apoiar países vulneráveis. Esse paradoxo ilustra o abismo entre as promessas políticas e as ações efetivas, comprometendo metas globais como as do Acordo de Paris.
A saúde em risco
Os pesquisadores destacam que o aquecimento global está ampliando desigualdades históricas: os países que menos contribuíram para as emissões de gases de efeito estufa são justamente os mais afetados por seus impactos. Populações rurais, povos indígenas e moradores de áreas urbanas periféricas enfrentam os maiores riscos, com acesso limitado a infraestrutura de saúde e saneamento.
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Além disso, hospitais e centros de saúde também são vulneráveis a eventos climáticos extremos, como enchentes e apagões, o que pode comprometer o atendimento durante emergências. O relatório ressalta a necessidade de fortalecer sistemas de saúde para resistirem a essas pressões e se prepararem para um futuro cada vez mais quente.
Caminhos possíveis
Apesar do cenário alarmante, o relatório destaca sinais de progresso. Entre 2021 e 2022, as emissões do setor de saúde caíram 16%, e a geração de energia renovável atingiu níveis recordes. Estima-se que 160 mil mortes prematuras sejam evitadas anualmente graças à redução do uso de carvão e à melhoria da qualidade do ar.
A transição para energias limpas, dietas de baixo impacto ambiental e sistemas alimentares sustentáveis é vista como uma oportunidade de transformação global. “Temos evidências mais claras do que nunca de que as mudanças climáticas estão prejudicando diretamente a saúde humana”, afirma o professor Kris Murray, codiretor do Centro de Mudanças Climáticas e Saúde Planetária da LSHTM, em comunicado. “Os impactos que vemos hoje, como mortes por calor extremo, não teriam ocorrido sem a interferência humana.”
Já o professor Tafadzwa Mahbhaudi, diretor do Lancet Countdown Africa, reforça que a ação climática é uma das maiores oportunidades do século 21. “Ela pode impulsionar o desenvolvimento, criar empregos e reduzir a pobreza energética, além de salvar vidas”, diz.
O relatório conclui que as soluções já estão ao alcance: investir em energia limpa, fortalecer sistemas de saúde, proteger ecossistemas e adotar dietas sustentáveis pode trazer benefícios imediatos e duradouros para a saúde global. No entanto, os autores alertam que o tempo está se esgotando a cada ano de atraso, que significa mais calor, mais doenças e mais vidas perdidas.
“A ação climática é, acima de tudo, uma ação pela vida humana”, resume o relatório.
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/um-so-planeta/noticia/2025/11/falta-de-acao-contra-mudancas-climaticas-custa-milhoes-de-vidas-todos-os-anos-diz-relatorio.ghtml
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