COP30: COMUNIDADES AFRODESCENDENTES E QUILOMBOLAS PEDEM RECONHECIMENTO HISTÓRICO E JUSTIÇA CLIMÁTICA, E CONSEGUEM SER INCLUÍDAS NOS TEXTOS, MAS SEM AÇÕES OBJETIVAS
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COP 30: Comunidades afrodescendentes e quilombolas pedem reconhecimento e justiça climática em Belém
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10/11/2025 12h56 Atualizado há 2 dias
Apenas há um ano, em outubro de 2024, durante a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), a COP16 de Biodiversidade, foi reconhecida a contribuição das comunidades de ascendência africana para a conservação dos ecossistemas e a manutenção da biodiversidade. Agora, na Conferência das Partes, a COP30, que começa nesta segunda-feira em Belém, a expectativa é de que esse reconhecimento seja reafirmado — e de que se consolide a presença dos povos negros no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Mais do que isso, essas comunidades querem ser ouvidas — especialmente sobre o financiamento aos serviços ambientais e sobre como garantir que esses recursos cheguem a quem realmente colabora para manter as florestas em pé. Um ponto central para a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e para a Coalizão Internacional dos Povos Afrodescendentes para a Ação Climática (Citafro) é discutir justiça climática e enfrentar a questão da desigualdade nesse debate. Afinal, quando se fala nos efeitos das mudanças do clima, é incontestável que as populações mais pobres são as mais afetadas — e, nesse grupo, estamos falando majoritariamente de pessoas negras.
O objetivo da Citafro é garantir que a presença negra na COP30 não seja apenas simbólica, mas que seja reconhecida a importância dos territórios afrodescendentes da América Latina e do Caribe na conservação ambiental — e que políticas públicas efetivas sejam criadas para apoiá-los. A meta é ter uma atuação estratégica e decisiva nos espaços de negociação e formulação de políticas globais.
— A nossa primeira participação em COPs foi em 2021, pós-pandemia. Chegamos sem entender muito bem o que se falava sobre nós, as muitas siglas, a tecnicidade das discussões. Chegamos a Belém conhecendo essa discussão e querendo colaborar para que recursos como os do TFF cheguem às comunidades, sem burocracia e sem entraves. Sem deixar a ciência ou a tecnologia de lado, é preciso lembrar que nós temos a prática, sabemos ouvir o que o planeta está dizendo. Queremos levar o saber ancestral do quilombo — os nossos velhos sabem, ao ver os ventos nas folhas, se a chuva vem, se está perto, se vem forte. Esse conhecimento de mais de 300 anos dos quilombolas precisa ser valorizado — diz Kátia Penha, quilombola de Sapê do Norte (ES), diretora de projetos da Conaq e membro da Citafro.
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Kátia estima que mil quilombolas participem da conferência em Belém, muitos deles cientistas.
— Há 30 anos, a primeira terra quilombola foi titulada no Pará. Hoje ocupamos espaços nas universidades, há quilombolas cientistas, e queremos ter a nossa identidade reconhecida, o nosso saber de mais de 300 anos — afirma.
O uruguaio Miguel Ángel Pereira Guadalupe, representante da Citafro, reforça a necessidade de reconhecimento dos direitos coletivos, destacando que vulnerabilizados e empobrecidas os afrodescendentes costumam estar entre os mais afetados pelas mudanças climáticas em toda a América Latina e Caribe. Guadalupe enumera cinco pontos fundamentais para a comunidade afro durante a COP30:
—O primeiro é o reconhecimento; em seguida, queremos tratar do financiamento, dos impactos das mudanças climáticas sob a perspectiva de raça e gênero e do desenvolvimento das capacidades dessas comunidades que atuam para manter a floresta em pé.
Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2025/11/cop-30-comunidades-afrodescendentes-e-quilombolas-pedem-reconhecimento-e-justica-climatica-em-belem.ghtml
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COP30 marca avanço histórico ao incluir afrodescendentes nos textos, mas deixa ações objetivas de fora
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22/11/2025 17h09 Atualizado há 18 horas
Pela primeira vez na história das COPs, textos centrais das negociações trouxeram menções explícitas a afrodescendentes. As referências aparecem nos documentos de Transição Justa, Plano de Ação de Gênero (GAP) e Objetivos Globais de Adaptação (GGA), além do documento político da presidência, o Mutirão.
Para o Geledés – Instituto da Mulher Negra, que liderou a discussão, a inclusão reconhece que populações negras da diáspora estão entre as mais impactadas pela crise climática e, ao mesmo tempo, entre as que mais produzem soluções, práticas e saberes para enfrentá-la.
No documento final da presidência, o Mutirão, há o reconhecimento da necessidade de considerar “os direitos dos povos indígenas e comunidades locais; seus direitos territoriais; seus conhecimentos tradicionais; e o papel de engajamento desses grupos e também dos afrodescendentes para o progresso coletivo da COP”.
Segundo a Oxfam, a força decisiva da COP segue vindo “do poder das pessoas”. A organização afirma que nenhum outro acordo climático havia enfatizado os direitos humanos com tanta intensidade quanto o de Belém.
“Os povos indígenas, as comunidades quilombolas afrodescendentes, as defensoras dos direitos das mulheres à terra e a sociedade civil no Brasil e no mundo continuam a exigir verdadeira justiça climática. Suas vozes são motivo de esperança. E continuaremos a pressionar governos, a indústria de combustíveis fósseis e os super-ricos por financiamento e ação até que a justiça climática se torne realidade”, diz a entidade.
Para Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional Brasil e enviada especial da COP30 para periferias e racismo ambiental, a menção aos afrodescendentes trata-se de um avanço simbólico e político importante, mas ainda faltam ações concretas.
- Ficou menos pior por conta das menções. Mas segue ruim na parte das soluções objetivas. Mulheres negras e outros grupos racializados já estão pagando caro pelos impactos da emergência climática. Os esforços da sociedade civil e da equipe da presidência da COP30 evitaram que tudo desandasse, mas a recusa de partes da COP em fazer uma transição justa para o fim dos combustíveis fósseis é algo preocupante.
Fonte:https://oglobo.globo.com/blogs/miriam-leitao/post/2025/11/cop30-marca-avanco-historico-ao-incluir-afrodescendentes-nos-textos-mas-deixa-acoes-objetivas-de-fora.ghtml?
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