COP30 APROVA TEXTO PRINCIPAL SEM MENÇÃO A ENERGIA FÓSSIL, APÓS CRÍTICAS DE PAÍSES LATINO-AMERICANOS E RESSALVAS RUSSAS
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COP30 aprova texto principal sem menção a energia fóssil, após críticas de países latino-americanos e ressalvas russas
Representante colombiana na sala alegou que levantara a mão antes de uma das marteladas para fazer uma objeção, o que provocou uma interrupção na sessão
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e
— Belém e Rio
22/11/2025 15h40 Atualizado há 16 horas
Três dos principais textos — que não mencionam combustíveis fósseis — já haviam sido aprovados por aclamação, com o presidente da conferência, André Correa do Lago, tendo batido o martelo, mas logo após a aprovação do quarto, a representante colombiana na sala alegou que levantara a mão antes de uma das marteladas para fazer uma objeção.
Foram aprovados por Lago na primeira parte da sessão os textos do Mutirão (principal pacote), Objetivo Global de Adaptação e o de Transição Justa. A interrupção foi feita no momento de aprovação do texto do Programa de Mitigação. A Colômbia exige que este documento inclua uma menção ao chamado “mapa do caminho de transição para longe dos combustíveis fósseis”, termo que caiu do texto do Mutirão. A sessão segue parada.
Após a aprovação da sessão, Corrêa do Lago pediu desculpas por não ter atendido partes que pediram a palavra durante a plenária de encerramento da conferência, mas afirmou que o secretariado da COP entendeu que, como as decisões foram marteladas, elas foram adotadas.
— Lamento muito. Eu não sabia dos pedidos das partes. Como muitos de vocês, eu não dormi, o que não tem ajudado. Assim como minha idade um pouco avançada — disse.
Texto aprovado
A versão negociada do "Mutirão Global", o principal texto decisório da COP30 não menciona a descontinuação do uso de combustível fóssil, frustrando as expectativas nutridas pelo presidente Lula.
O texto de oito páginas, construído a partir de uma demanda de países que reclamaram de itens importantes que estavam fora da agenda oficial da COP30, nem sequer menciona a expressão "fóssil", algo que alguns analistas leem como retrocesso em relação a decisões de outras conferências.
Uma outra omissão já esperada no texto é o chamado de alguns países que queriam antecipara a revisão das chamadas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), as promessas oficiais de redução de emissões gases do efeito estufa de cada nação. As NDCs atuais são insuficientes para conter o objetivo de conter o aumento de temperatura a no máximo 1,5°C, e alguns países queriam antecipar as novas revisões previstas para 2030.
Uma das decisões esperadas que foram, entregues, com alguma ressalva, é em torno de como implementar o artigo 9.1 do Acordo de Paris, que fala de financiamento do combate à crise do clima entre países pobres. O "Mutirão" estabelece uma agenda de dois anos para abordar o problema.
De maneira sutil, o texto "acolhe" e "toma nota" dos esforços das presidências de COP do Brasil e do Azerbaidjão para "trabalhar juntos" e discutir a elevação da meta de financiamento global anual de US$ 300 bilhões para US$ 1,3 trilhão até 2030.
Outra entrega que pode se considerar parcialmente feita é um chamado para que se triplique o volume de recursos destinados à adaptação climática. O valor passaria de US$ 40 bilhões por ano para US$ 120 bilhões por ano até 2035.
Em um texto distinto sobre o Objetivo Global de Adaptação (GGA), que deve ser votado separadamente, a COP30 também deve entregar um dos seus principais objetivos "mandatados". Esse eram um tópico que estava efetivamente na agenda oficial inicial, o de definir quais são os indicadores usados para medir o progresso na direção dessa meta.
O texto do GGA encolheu de 100 para 59 os indicadores propostos, algo defendido por países em desenvolvimento, que não tem verba e capacidade técnica para fazer o monitoramento de todos os critérios a serem analisados. Está definido quais serão os tópicos de resiliência em saúde, saneamento, agricultura e outros temas, que o planeta precisa começara a medir.
Suspensão da reunião
A reunião foi suspensa por cerca de 30 minutos. A colombiana acusou o presidente de erro no processo de votação.
— A Colômbia levantou uma questão de ordem antes que o Programa de Trabalho de Mitigação fosse aprovado com o uso do martelo, e a questão de ordem foi ignorada. Portanto, senhor Presidente, lamento muito, mas o senhor não me deixa outra escolha a não ser objeção ao Programa de Trabalho de Mitigação, a menos que a seguinte menção seja incluída — e vou ler — no parágrafo 17, além dos temas dos diálogos globais em 2026 serem a indústria e o caminho para implementar a transição dos combustíveis fósseis de maneira justa, ordenada e equilibrada, em linha com a melhor ciência e visando fechar as lacunas para manter 1,5°C ao alcance - declarou Daniela Durán González, chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável colombiana.
E acrescentou:
— A Colômbia não está bloqueando o progresso — ao contrário do que está sendo dito e da forma como a narrativa aqui tenta mostrar. Estamos exigindo as garantias necessárias para permitir que a linguagem e o tema que já concluímos por consenso possam ser discutidos aqui. Negar a melhor ciência disponível não só coloca o regime climático em risco, mas também a nossa própria existência. Que mensagem estamos enviando ao mundo, senhor Presidente?
A Colômbia foi durante toda a conferência uma das mais aguerridas defensoras de que houvesse em Belém o ponta pé inicial do mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis.
Fonte:https://oglobo.globo.com/brasil/cop-30-amazonia/noticia/2025/11/22/cop30-aprova-texto-principal-sem-mencao-a-energia-fossil-mas-intervencao-colombiana-atrasa-plenaria-de-encerramento.ghtml
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