AUROVILLE A CIDADE UNIVERSAL QUE EXISTE HÁ 50 ANOS NA ÍNDIA,DEDICADA À BUSCA DE UMA UNIDADE HUMANA,VIDA SUSTENTÁVEL E HARMONIOSA

  

por A. Dubey 20 de janeiro de 2018 1607 

Auroville - Primeiro Município Experimental da Índia

 Auroville quer ser uma cidade universal onde homens e mulheres de todos os países possam viver em paz e harmonia progressiva acima de todos os credos, de todas as políticas e de todas as nacionalidades.O objetivo de Auroville é realizar a unidade humana.

Auroville, também conhecida como "A Cidade do Amanhecer", é uma uma povoação internacional ou ecovila, perto de Pondicherry, no sul da Índia, construída com o propósito de realizar a unidade humana comunitária na diversidade. Conta atualmente com cerca de 6 mil pessoas, um terço das quais indianas e as demais originárias de 35 países do mundo todo, inclusive do Brasil.

Foi fundada dentro dos princípios da ioga integral, criada por Mirra Alfassa, desenvolvida por ela e seu companheiro Sri Aurobindo.

Fonte:Wikipédia

A cidade onde se vive sem dinheiro completa meio século

Auroville, um utópico assentamento na Índia, é hoje para muitos um perfeito experimento de convivência e, para outros, um lugar inseguro transformado em parque temático de turistas


Uma sociedade sem polícia, na qual não se usa dinheiro, não existem as religiões e cada um contribui com sua habilidade para a comunidade. Estes eram os pilares sobre os quais em 1968 se instalou na costa de Tamil Nadu (Índia) um grupo de pessoas dispostas a levar adiante sua própria utopia, uma cidade experimental. Eram pessoas livres, cujas vidas seriam regidas por doces virtudes: igualdade, generosidade, receptividade, perseverança, humildade, sinceridade, gratidão, elevação, coragem, bondade, paz e progresso. Ela foi chamada de Auroville e está a ponto de completar 50 anos, em fevereiro do próximo ano, ainda longe de alcançar o ideal com o qual nasceu.

O objetivo inicial era construir uma cidade para 50.000 pessoas, embora atualmente seus moradores sejam 6.000, de 36 nacionalidades diferentes, a metade deles indianos. Somente 2.700 têm direito a voto. Os habitantes afirmam que o lugar conseguiu ser autossuficiente graças ao turismo, a exportação de alimentos e produtos artesanais, bem como a adoção de seus projetos de música e arquitetura no exterior.

A isso se deve acrescentar uma extensa lista de apoios internacionais ao longo de sua história, ente os quais a Comissão Europeia e o Governo de Navarra, a UNESCO e o Governo indiano, que lhes proporciona subvenção anual, segundo documentos mostrados pelos membros da comunidade.

O objetivo inicial era construir uma cidade para 50.000 pessoas; atualmente são 6.000 moradores

Auroville foi fundada como uma meca do modo de vida alternativo. Nas escolas se ensina o que o aluno quiser aprender na semana, tudo o que se consome é orgânico, não se vende álcool, conta com uma das maiores cozinhas com energia solar do mundo, tudo é gratuito (desde a lavanderia e creche até os cursos de filosofia e massagens)... As decisões são tomadas de modo consensual por meio de três órgãos de participação da comunidade.

A cidade não tem ruas asfaltadas e a arquitetura se organiza em torno de um grande templo central destinado à meditação (Matrimandir). Entre os moradores há um certo ar de culto aos fundadores, Sri Aurobindo e Mirra Alfassa. Referem-se a ela como "a mãe" e em todas as casas há fotografias e livros escritos por ambos.

Todos os anos são aceitas 120 pessoas, incluindo membros da casta dos dalits, condenados desde o nascimento a viver repudiados pela sociedade. Quando os habitantes morrem, são levados a um velório chamado Farewell (despedida), onde o cadáver fica em uma urna de vidro até que comece a se decompor. Só então a alma está preparada para ir embora, dizem.

A estadia mínima do visitante é de dois meses, caso se integre a um dos projetos, e nem todo mundo chega a se adaptar. Segundo conta Fabienne, que vive há 40 anos na comunidade, é frequente deparar-se com pessoas e grupos que chegam com entusiasmo e logo abandonam o local e outras que não são aceitas pela comunidade porque não cumprem os requisitos (não contribuem com trabalho, alteram a ordem social...). E quando se entra, o problema é como sair dali. Depois de viver durante anos sem ganhar dinheiro, se uma pessoa decide ir embora não dispõe de recursos para comprar nem uma passagem. Também houve muitos casos de pessoas que abandonaram Auroville e depois de alguns anos regressaram, incapazes de se integrar socialmente em nenhum outro lugar.

Em todas as casas há fotografias dos fundadores e livros escritos por ambos

A liberdade que os caracteriza e da qual se vangloriam é precisamente a fonte de seus problemas. Por não ter querido todos esses anos delimitar concretamente as fronteiras, dezenas de restaurantes, centros de ioga e outros negócios fazem uso do nome Auroville para enganar os turistas. Seus habitantes estão tentando resolver esse assunto por via judicial.

Essa falta de fronteiras (32 entradas e nenhuma cerca) também tem causado problemas de insegurança. Várias mulheres denunciaram ataques por parte de moradores de cidades vizinhas contrários ao modo de vida da comunidade. Também são frequentes os roubos a turistas. Além disso, a lista de espera para viver no assentamento é de dois anos por falta de moradias e a sensação de residir em um parque temático é constante por sua relativa dependência do turismo.

Mapa da cidade experimental indiana.
Mapa da cidade experimental indiana.AUROVILLE

"Auroville é um refúgio, é um pequeno laboratório para trabalhar com as doenças do ser humano e buscar uma cura. Tudo o que acontece no mundo exterior acontece aqui também", explica Joseba, um basco que está há 22 anos na cidade e é um dos 50 espanhóis que ali residem. É um dos diretores do projeto Sacred Groves, no qual participam de modo voluntário arquitetos de todo o mundo experimentando novas formas de construção ecológica e sustentável. Os espanhóis Joan e Aloka ensinam a única disciplina obrigatória nas escolas. ATB (despertar a consciência por meio do corpo), na qual se aprende a identificar que emoção se está sentindo e em que parte corporal se manifesta. A partir dos 16 anos os estudantes escolhem entre continuar estudos homologados ou uma educação baseada em ofícios e artes.

Muitos dos projetos que a comunidade desenvolve são exportados. No laboratório de música, um dos instrumentos de destaque é a nidra anantar, uma cama de massagens em cuja parte inferior estão instaladas 50 cordas, de modo que quando alguém as aperta por baixo a pessoa que está deitada recebe os benefícios da vibração. Também contam com o Centro de Educação Dental e Ação Rural (ADCERRA) no qual são formadas mulheres dalit para que aprendam a eliminar cáries de modo natural nas crianças de suas comunidades, já que num entorno tão pobre esse é o único serviço a que podem recorrer (segundo o informe demográfico sobre odontologia da Revista Indiana de Ciências Odontológicas, 70% dos indianos vivem em áreas rurais sem serviços odontológicos e se estima que apenas a metade da população do país use escova de dentes).

Várias mulheres denunciaram ataques por parte de habitantes de cidades vizinhas

Na cerimônia de inauguração da comunidade compareceram 5.000 pessoas, entre as quais representantes de 124 países que depositaram ali um punhado de terra de seu lugar de procedência. Para o aniversário de cinquenta anos, em 2018, esse mesmo ritual será repetido e estará presente o presidente da Índia, Narendra Modi. O assentamento mantém muitas das frentes abertas há 50 anos e ainda está muito longe da utopia.

Fonte:https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/24/internacional/1508847310_260735.html

Outras comunidades

  • Findhorn na Escócia, onde eles vivem, mais ou menos 1.000 pessoas.
  • Tamera no Alentejo, no Sul de Portugal, onde vivem aproximadamente 160 pessoas.
  • Arcosanti no Arizona , onde vivem, mais ou menos 150 pessoas.
  • Inkiri Piracanga na Bahia, nordeste do Brasil, o número exato de habitantes é desconhecido.

O que é isso?

Auroville é um município experimental fundado em 1968 no território da União de Puducherry (Pondicherry). Auroville não pertence a ninguém em particular, mas à humanidade como um todo e suas portas estão abertas a todos, independentemente da idade, nacionalidade, situação financeira ou pontos de vista religiosos. Fundado nas visões do falecido iogue Shri Aurobindo , Auroville luta pela paz, harmonia, conhecimento e elevação. O número total de residentes permanentes na comuna é de cerca de 2.800 que vieram se estabelecer aqui de 54 nacionalidades, e o que todas essas pessoas diferentes têm em comum é o impulso para o crescimento individual e o desenvolvimento espiritual.Localizada na costa leste, 150 km ao sul de Chennai,  Auroville e a vizinha Pondicherry estão repletas de viajantes de todo o mundo que vêm aqui para experimentar a vida tranquila da praia, clima tropical, cultura colonial francesa, cafés mediterrâneos artísticos e o estilo de vida espiritual alternativo. Portanto, se você acabou de sair da faculdade ou está em uma crise de meia-idade, Auroville pode ser apenas o lugar para você encontrar algumas respostas para si mesmo e se divertir um pouco com sua auto-exploração.

Ariel vista da cidade.
créditos da imagem: aurovill.org

O que está nele?

Auroville tem muito que fazer por dentro. É muito parecido com um miniverso ou uma entidade senciente que cuida de si mesma. Então, aqui está um breve resumo do que você não sabe e de todas as coisas que compõem Auroville:

A história

Auroville nasceu em 28 de fevereiro de 1968. Durante a inauguração, jovens de 124 nacionalidades diferentes depositaram um punhado de seu solo nativo na urna, uma estrutura revestida de mármore na forma de um botão de lótus no centro do anfiteatro de Auroville. Foi nessa época que foi assinado o foral de Auroville, escrito à mão em francês pela fundadora conhecida como Mãe (Mirra Alfassa) .

a Carta de Auroville escrita à mão em francês.

O Matrimandir

Auroville é construído em torno do Matrimandir (sânscrito para templo da mãe). É uma sala de meditação em forma de uma grande esfera rodeada por 12 pétalas e contém o maior globo de vidro opticamente aperfeiçoado do mundo.

sob a
cortesia de imagem Matrimandir : picstoc.com

Demorou 37 anos para construir, desde o lançamento das bases ao nascer do sol em 21 de fevereiro de 1971 - até sua conclusão em 2008. O Matrimandir não pertence a nenhuma religião ou seita em particular e está aberto ao público mediante agendamento.

créditos da imagem: modernica.net

Para marcar a sua visita ao Matrimandir clique aqui

 

Voluntário / estagiário em Auroville

Existem inúmeras oportunidades de voluntariado em Auroville. As áreas de trabalho incluem: cuidados de saúde alternativos, práticas ecológicas, manutenção de edifícios, energia renovável, educação primária e secundária, extensão de vilas, arquitetura, agricultura orgânica, etc. Oportunidades de voluntariado de curto e longo prazo são oferecidas aqui e é uma ótima maneira de alguém teste as águas para alguém que está pensando em se mudar para cá.

voluntários trabalhando no jardim do Buda em Auroville

Clique aqui para procurar oportunidades de voluntariado em Auroville.

 

Study @ Auroville

programa Swadharma de 5 semanas de Auroville é uma aventura de aprendizagem transformadora com o objetivo de autodescoberta. Mais adequado para idades de 18 a 28, o programa é baseado em ajudar os jovens a descobrir sua vocação e realizar seu potencial.
Programas de curta duração e workshops também são oferecidos aqui.

aprender é divertido em Auroville
créditos de imagem: earth-auroville.com

Para mais detalhes clique aqui.

Arquitetura

Auroville é uma cidade em constante crescimento. Arquitetos de todo o mundo contribuíram para a visão desde sua concepção, há mais de 50 anos. Auroville tem sido o centro de experimentação em arquitetura com vários aspectos, incluindo: tecnologia de construção, materiais de construção e arquitetura ecológica que harmoniza com sucesso com o ambiente circundante e prova ser rentável. A construção pioneira e a tecnologia de construção usadas aqui ganharam vários prêmios de design e bolsas para pesquisa e inovação arquitetônica O Auroville Earth Institute está agora trabalhando em mais de 35 nações para transferir e promover o conhecimento da arquitetura terrestre e sustentável.

arquitetura contemporânea de uma escola de Auroville.

Leia sobre o instituto Auroville Earth aqui

Atividades ambientalmente conscientes 

Um grande número de projetos está em andamento na área e nos arredores. Captação de água, florestamento, gestão de resíduos, agricultura orgânica, desenvolvimento ecológico e rural, energia renovável, para citar alguns.

banheiros com conservação de água em Auroville.
Imagem cortesia: internationalhouseauroville.com

Visite a página de práticas do Auroville Green aqui.

 

Educação 

Auroville tem uma população de mais de 600 crianças e uma abordagem educacional bastante interessante. Aqui, a escolaridade estruturada também é oferecida até os 14 anos de idade e o sistema educacional é reconhecido por entidades nacionais e intencionais.

diversidade de alunos na imagem da 'escola do futuro em Auroville'
cortesia: auroville.org

Existem muitos jardins de infância, escolas primárias e secundárias. O que torna a educação realmente fascinante aqui é o fato de que os professores do jardim de infância são da França, Alemanha, Itália e Índia, enquanto as crianças podem ser nativas da Rússia, África do Sul ou talvez até do Peru, embora o meio de ensino seja o inglês. A diversidade cultural e antropológica garante que a criança seja criada com uma maior perspectiva e exposição global.

consciência através da terapia corporal no jardim de infância de Auroville
créditos de imagem: awarenessthroughthebody.wordpress.com

Arte e Cultura

A arte goza de uma estatura muito reverenciada na sociedade Auroviliana, e grande parte da comunidade consiste em artistas e pessoas criativas. Auroville é o lar de uma ótima plataforma para mostrar e celebrar várias formas de arte diferentes.

um concerto de jazz em Auroville

Centros de arte para mostrar uma miríade de artes cênicas são amplamente prevalentes aqui. Algumas das formas de arte admiradas aqui são dança, música clássica, poesia, filmografia , para citar alguns. Existem muitos projetos e iniciativas de arte em grupo em execução aqui, o que torna Auroville um ótimo lugar para artistas encontrarem asilo.

uma das imagens de Auroville Chiors,
cortesia: aurovilleradio.org

 Sistema de Saúde

O cenário da saúde em Auroville também é bastante intrigante. Há muito foco na saúde e no bem estar, por meio do tratamento holístico . Martuvam Healing Forest é uma floresta medicinal de 7 acres em Aurroville que propaga a forma Siddha de tratamento médico utilizando ervas medicinais naturais. Homeopatia, Ayurveda e outras formas de modalidades de cura holística também são populares aqui.

a ambulância auroville
créditos de imagem: auroville.org

Resumindo, Auroville tem muitas ofertas como destino de viagem. Enquanto estiver aqui, é melhor se envolver em algumas das atividades, pois há muito que acontece!

Deets

Auroville fica a 30 minutos de carro de Pondicherry e a 3 horas de carro de Chennai.
Para fazer um tour introdutório de meio dia em Auroville, clique aqui.
Faça reservas com bastante antecedência se você planeja visitar de novembro a março, pois é a estação mais movimentada.
não há automóveis em Auroville, as pessoas se locomovem muito bem em bicicletas e motocicletas,  facilmente disponíveis para aluguel.

Fonte:https://curlytales.com/imagine-theres-no-countries-looks-like-john-lennons-dream-came-true-in-india-auroville/


Auroville, a cidade onde é possível viver totalmente sem dinheiro


  • Horatio Clare
  • BBC
Homem com réplicas das notas tiradas de circulação na Índia
Legenda da foto,

No fim de 2016, a Índia aboliu as notas de maior valor afetando (quase) todo mundo

É preciso ter muito senso de humor quando o governo declara que a maioria das notas que você tem na carteira não vale mais nada. Foi o que aconteceu na Índia: no fim de 2016, o país retirou de circulação as cédulas de alto valor mais alto.

Em um país com 1,2 bilhão de habitantes, a corrida para trocar as notas de 500 (R$ 25) e 1 mil (R$ 50) rúpias ou depositar o valor em contas provocou grandes filas nos bancos - as cédulas que deixaram de valer correspondiam a 85% de todo o dinheiro em circulação no país.

A decisão do governo indiano pretende combater a corrupção, o mercado negro e a evasão de divisas, já que muitos trabalhadores recebem em dinheiro vivo.

Em novembro de 2016, poucos eram os sinais de revolta nas filas: as pessoas concordavam com a medida. Mas assim que as notas saíram de circulação, os jornais noticiaram que qualquer transação exigia negociações complicadas.

Houve festas de casamento em que convidados tiveram que pagar a conta. O governo chegou a declarar, por exemplo, que os pedágios seriam grátis porque não haveria dinheiro suficiente para troco.

Talvez o único lugar na Índia onde o desaparecimento das cédulas não tenha produzido nenhum efeito seja Auroville, também chamada de "A Cidade do Amanhecer", localizada próximo a Pondicherry, no sul do país.

A cidade foi fundada a partir dos princípios da ioga integral e é uma comunidade internacional, onde vivem 50 mil pessoas de 50 países, inclusive do Brasil.

A Mãe e a 'bola de golfe dourada'

Mirra Alfassa
Legenda da foto,

Alfassa é conhecida como a 'Mãe'

Auroville foi fundada em 1968 como um povoado internacional dedicado à busca de uma vida sustentável e harmoniosa.

A fundadora é uma parisiense chamada Mirra Alfassa (1878-1973) - que depois seria conhecida como "a Mãe".

Filha de mãe egípcia e pai turco, ela nasceu na França e estudou ocultismo na Argélia. Em 1914, conheceu na Índia o poeta, nacionalista e professor de ioga Sri Aurobindo, seu mentor e companheiro.

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As regras de Auroville

Para viver na "Cidade do Amanhecer" é preciso conhecer algumas regras:

- Auroville não pertence a ninguém em particular, mas a toda a humanidade. No entanto, para viver em Auroville é preciso ser um servidor voluntário da consciência divina.

- Auroville será o lugar de uma educação infinita, do progresso constante e de uma juventude que nunca envelhece.

- Auroville pretende ser a ponte entre o passado e o futuro, aproveitando todas as descobertas para avançar rumo ao futuro.

- Auroville será o lugar de uma pesquisa material e espiritual que vai resultar na manifestação viva da unidade humana verdadeira.

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Alfassa sonhava com uma sociedade sem dinheiro, na qual o trabalho coletivo e a troca de trabalho por serviços tornaria moedas e cédulas irrelevantes.

A comunidade, que ocupa atualmente uma área de 20 quilômetros quadrados, plantou um milhão de árvores e transformou um terreno deserto e abandonado em área verde.

Parque da Unidade em Auroville
Legenda da foto,

O Parque da Unidade é um dos locais que reúne exemplares do um milhão de árvores plantadas pelos moradores

Mas não se pode dizer que a Auroville de hoje é a sociedade ideal que Alfassa imaginou: sua história inclui crimes, conflitos e constantes dúvidas sobre sua transparência financeira.

Mesmo assim, o empreendimento floresce: os aurovilianos têm empresas de todo o tipo, desde tecnológicas até têxteis.

Seu centro nevrálgico é o Matrimandir ("Templo da Mãe Divina", em sânscrito), um local de meditação que se assemelha a uma gigantesca bola de golfe dourada.

Matrimandir
Legenda da foto,

O Matrimandir, ou Templo da Mãe Divina, tem 30 m de altura e 36 m de diâmetro

Sonhando com café

No Café dos Sonhadores, perto do centro de informações para visitantes, ofereço um café a uma auroviliana recente em troca da sua história.

"Os sonhadores fazem o melhor café", me diz a mulher, que prefere ficar no anonimato. "Mas é caro."

O garçom pede o número da conta dela e ela indica que sou eu quem vai pagar.

"Cada um tem uma conta onde é depositada a sua manutenção. Estou aqui há três meses e, no primeiro ano, cada pessoa tem que financiar a sua estada", explica.

Muitos residentes têm rendimentos próprios ou o apoio econômico de parentes e amigos.

A manutenção é uma quantia mensal normalmente suficiente para atender as necessidades básicas em Auroville. O valor é pago na unidade comercial ou no serviço comunitário onde eles trabalham.

"Na Suíça eu era pobre, mas aqui posso me dar ao luxo de doar dinheiro."

A 'galáxia' de Auroville
Legenda da foto,

O arquiteto francês Roger Anger desenhou Auroville no formato de uma galáxia, em que várias "linhas de força" parecem desenrolar-se do ponto central onde fica o Matrimandir ou Templo da Mãe Divina

A nova auroviliana aparenta ter menos que seus 70 anos.

"Isso é por causa da minha dieta e porque ando de bicicleta", garante.

Com uma bata de algodão e um colar que, explica, simboliza a amizade, ela irradia um grande entusiasmo com a sua nova vida.

"Eu trabalhava com tecnologia da informação na Nestlé, na Suíça... Ainda não posso acreditar", exclama, entre risos.

O contraste entre a multinacional altamente tecnológica e os centros de saúde e lojas de roupas artesanais é absurdo.

"Mas eu tinha que criar meu filho. Mas passei a procurar uma comunidade e, quando encontrei a página de Auroville na internet, soube imediatamente que este era o lugar em que eu queria estar", lembra.

"Foi uma energia estranha."

Em Auroville não existe propriedade privada da terra, de casas ou comércio. Tudo é coletivo.

A página da comunidade na internet afirma que "em Auroville o trabalho não é uma forma de ganhar o sustento, mas sim uma forma de servir ao divino".

Contribuir para a utopia

Estrada de Auroville
Legenda da foto,

Moradora sonha em ver veículos elétricos nas estradas de Auroville

"Minha missão é trazer o transporte elétrico para Auroville", explicou. "Fiquei horrorizada ao ver tantas motocicletas!"

Por isso, ela está financiando o projeto e atendendo os visitantes no centro de informações. Ela fez amigos e está decidida a passar o resto dos dias na comunidade.

"Existe algo neste lugar que é maior do que a gente", diz.

Embora não seja devota dos ensinamentos da "Mãe" e seja mais realista do que peregrina, ela fala sobre algo parecido com destino.

"Quando se recebe um chamado, as coisas fluem", diz.

E o que ela oferece é mais do que tempo de trabalho.

"Tenho uma aposentadoria, assim não preciso que me paguem. Simplesmente quero contribuir com esta ideia."

Cultivando em Auroville
Legenda da foto,

Existem em Auroville mais de uma dezena de fazendas de diferentes tamanhos, onde não só é possível semear, mas aprender a cultivar a terra

"Auroville faz com que as coisas sejam mais fáceis se você tem um sonho", continua.

No entanto, o sonho de Auroville de libertar-se do dinheiro "ainda não está funcionando muito bem", admite ela. "Mas não lidamos com dinheiro, o que é agradável."

"Quem não tem rendimentos recebe ajuda, mas é um valor que dá apenas para viver modestamente. O importante é fazer amigos na comunidade e encontrar uma maneira de contribuir com a sua energia", conclui.

O intervalo de descanso termina e ela volta ao seu posto no centro de informações.

Em muitas partes do mundo, pessoas relativamente saudáveis e aposentadas contribuem com seu tempo e conhecimento para o sustento das sociedades.

O que me surpreendeu depois de conversar com esta auroviliana é saber que ela vive numa comunidade na qual efetivamente paga para trabalhar.

E, ao que parece, sente uma satisfação que o dinheiro não consegue comprar.

Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38635168

Auroville, a cidade do amanhecer

A comunidade alternativa na Índia se mostra um ótimo destino para quem busca maior auto conhecimento e introspecção

A cidade que pode parecer o céu para alguns e o inferno para outros se chama Auroville e localiza-se no Sul da Índia. Em meio a tantas comunidades alternativas que falharam ao serem construídas no meio de um mundo — quase completamente — capitalista e dependente do dinheiro, a cidade global instalada na Índia se destaca por, esse ano, completar 50 anos de existência e relativo sucesso.

A viagem é válida para quem busca conhecimento interior, introspecção e não se importa tanto com conforto. A ideia de Auroville é que a comunidade seja colaborativa, ou seja, que cada um faça um pouco para sustentar seu modo de vida.

Auroville foi fundada em 1968 com o objetivo de ser um lugar em que as pessoas vivessem sem a dependência de dinheiro, política e religião. Há 50 anos o lugar vem se transformando para adequar sua ideia de cidade do futuro e descobrir o melhor jeito de construir uma comunidade global mais pacífica e harmoniosa com a natureza e os seres.

A vida dos aurovillianos hoje é dividida em comunidades que se separam por interesses em comum. É possível encontrar grupos que focam em saúde e bem estar —  com grande concentração de idosos —, em terapia e ioga — para os que buscam mais introspecção —, comunidades com mais jovens ou crianças com diversos outros objetivos de vida.

A ideia é que seus moradores não tenham que trabalhar para viver, e sim, que trabalhem para colaborar com a sociedade e transformar Auroville em um lugar melhor. Ainda pode ser considerada uma sociedade — em partes — dependente do dinheiro, mas seus moradores não são obrigados a lidar com ele, nem passam necessidade se não o tiverem. É possível viver a base de troca e o lugar oferece um sustento mensal para se viver uma vida com o básico.

“Na Suíça eu era pobre, mas aqui posso me dar ao luxo de doar dinheiro”, diz uma moradora anônima em entrevista para a BBC. De contratada para trabalhar com tecnologia da informação em uma multinacional para aposentada em uma comunidade dos sonhos (para ela), a nova moradora de Auroville relata não querer sair mais do lugar.

Não é possível afirmar que a comunidade internacional é um ponto turístico indiano. Apesar de praticável, as visitações não são tão incentivadas. As informações de estadia e transporte são descentralizadas e é necessário uma pesquisa cuidadosa antes de se jogar nos ônibus e táxis da região.

No site de Auroville estão disponíveis algumas modalidades de conhecer a cidade. É possível passar o dia, algumas semanas ou até ser voluntário por um ano na comunidade. Existem guest houses pagas em dólares para quem pretende só dar uma volta e ver como é possível viver totalmente baseado em coletividade. A viagem requer uma dose de boa vontade e exploração, já que os moradores são conhecidos por não serem os melhores anfitriões e por não demonstrarem interesse nos visitantes.

Há muito o que se ver na “grande” cidade. A atração principal fica com o Matrimandir, ponto central da cidade onde uma grande esfera dourada com uma arquitetura que dá a sensação de estar saindo do chão significando o nascimento de um novo pensamento de sociedade. O passeio ao monumento faz um convite à introspecção, com os passeios pelos jardins e a meditação profunda no interior de seu salão. Além de conhecer a obra arquitetônica, é possível passar o dia com atividades como agricultura, terapia, ioga e episódios culturais como filmes e apresentações de música.

Matrimandir, Auroville Matrimandir é conhecido como “a alma da cidade”

Matrimandir é conhecido como “a alma da cidade” (Soltan Frédéric/Getty Image/Reprodução)

Para se tornar um morador de Auroville, um período de teste é necessário para a aceitação na comunidade e deve ser mostrada uma colaboração com a população. “Durante os 12 meses de seu período como Newcomer [como são chamados os novos moradores], é pedido que você explore suas habilidades, áreas de interesse e conhecimento para contribuir e se envolver na construção e manutenção da cidade e da sociedade”, segundo o site.

A ideia de construção do lugar veio de Mirra Alfassa, francesa de mãe egípcia e pai turco, conhecida como “Mãe”. O objetivo foi criar uma sociedade balanceada, justa, harmoniosa e dinâmica. Juntamente com seu parceiro e mentor, Sri Aurobindo’s, Auroville começou a ser construída e em 1968 foi fundada com a presença de 124 países, apoio do governo da Índia e da UNESCO, que acredita que o projeto é relevante para o futuro da humanidade.

Fonte:https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/auroville-a-cidade-do-amanhecer/

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